Os efeitos desastrosos são a ineficiência para alocar recursos e o populismo político na economia
“Nos Estados Unidos, na Europa e em boa parte das economias avançadas, a recente onda de intervencionismo estatal é apenas uma tentativa de reduzir o impacto da recessão global e de auxiliar na recuperação da saúde dessas economias. Os governos não têm a intenção de gerir indefinidamente o processo econômico. Entretanto, nas economias emergentes, uma atitude oposta está por trás das intervenções estatais. Nesses países, a pesada mão do Estado reflete uma rejeição estratégica dos princípios da economia de mercado”, afirma Ian Bremmer, no artigo “Uma nova era do capitalismo de Estado: o fim dos mercados livres?”, na revista “Foreign Affairs”.
O autor se preocupa com os efeitos desastrosos que o ressurgimento do capitalismo de Estado injeta na economia mundial. As colossais ineficiências na alocação de recursos. O populismo político nas decisões econômicas. “Durante a Guerra Fria, as economias soviética e chinesa tiveram pouco impacto sobre as economias de mercado ocidentais. Mas, agora, funcionários de Estado em Abu Dhabi, Ancara, Pequim, Brasília, Moscou e Nova Délhi tomam decisões econômicas com ressonância nos mercados globais. Eles estão sendo usados fundamentalmente para a obtenção de ganhos políticos. Um jogo inteiramente diferente, com novos ganhadores e perdedores, está emergindo.”
Segundo Bremmer, o capitalismo de Estado em sua versão contemporânea apresenta quatro atores principais: companhias nacionais de petróleo, as demais empresas estatais, os fundos soberanos e os “campeões privados” patrocinados por seus governos. “As 13 maiores companhias petrolíferas do mundo, medidas pelo potencial de suas reservas, são possuídas e operadas por governos, que controlam três quartos das reservas energéticas globais. As famosas multinacionais privadas, como Esso, Shell, BP, Chevron e Total, detêm menos de 3% das reservas mundiais.”
“Os fundos soberanos, uma expressão cunhada recentemente para os portfólios financeiros de governos nacionais, representam 12,5% dos investimentos globais. Essas formidáveis alavancas de poder das autoridades estatais estão redefinindo o jogo político internacional e o funcionamento da economia mundial. Ressurge mais uma vez na história o complexo fenômeno do capitalismo de Estado”, diz Bremmer.
Na Rússia, prossegue ele, as grandes companhias privadas precisam de patrocínio do governo, sob a forma de crédito farto, contratos favoráveis e subsídios para garantir um papel dominante na economia doméstica e vantagens oficiais para competir com rivais estrangeiros. “Os ‘campeões nacionais’ são controlados por um pequeno grupo de oligarcas escolhidos pelo Kremlin. Na China, ocorre o mesmo: companhias gigantescas são operadas por um pequeno círculo de homens de negócios bem conectados, recebendo favores do governo. As motivações políticas por trás das decisões de investimento não apenas asfixiam seus rivais privados como também distorcem os mercados globais”, afirma.
Índia, Turquia, México e Brasil, constata Bremmer, alternando governos militares e nacionalistas, nunca subscreveram a visão de que apenas as economias de mercado e a livre-iniciativa podem trazer o progresso contínuo. Mesmo quando começaram a liberalizar suas economias, introduziram apenas reformas parciais, sem aderir aos princípios dos mercados livres. Agora, chega uma nova onda de capitalismo de Estado, trazida pela recessão global.
Os bancos centrais estão no centro da crise financeira global. É muito alardeada sua atuação no esforço de reativar a economia mundial, festejada antecipadamente na recuperação das Bolsas. Mas o fato relevante, percebido apenas por olhares mais sofisticados, foi a contribuição decisiva dos mesmos bancos centrais, ao longo de anos, para construir esta crise. A incessante manipulação dos juros pelos americanos e a permanente falsificação do câmbio pelos chineses são as novas dimensões extraordinariamente perigosas e pouco reconhecidas da ressurreição do capitalismo de Estado.
(Época – 17/08/2009)
TODOS SABEMOS QUE NO PT, TEM GENTE QUE GOSTARIA DE UM ESTADO ONDE O GOVERNO DEFINISSE TUDO! É SÓ VER QUANTAS EMPRESAS OS GOVERNOS DO PT CRIARAM.