A recente polarização da política brasileira levou a uma situação curiosa: o vácuo eleitoral. Diante do crescimento orgânico de Bolsonaro de um lado do ringue e da consolidação do nome de Lula do outro, começaram as especulações na busca de um nome de centro, uma espécie de Macron dos trópicos, alguém que passasse ao largo da disputa entre os dois extremos e se viabilizasse como o caminho para uma nova política.
A lista de postulantes a ocupar o posto vai crescendo a cada dia. Começou com Doria, que esbarrou nas pretensões de Alckmin. Habita os pensamentos de Álvaro Dias há tempos, flertou com os resultados de Meirelles na Fazenda e desaguou no caldeirão de Luciano Huck, mais novo nome da bolsa de apostas. Todos enfrentam desafios e possuem um caminho longo adiante se realmente desejam se viabilizar como candidatos em 2018.
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O curioso é enxergar que nenhum nome até o momento surgiu como um fenômeno de fora da política, de um verdadeiro movimento que conseguisse se viabilizar por sua própria força e então buscar abrigo em um partido. Este é um acontecimento que diante do quadro que se apresenta ainda pode ocorrer, entretanto, precisa de mais tempo de maturação para entrar no processo com a força necessária.
A chegada de um outsider forte ao pleito sacudiria as estruturas da eleição. Talvez em termos de Presidência fosse aquilo que o país precisa. Alguém com ímpeto gestor, ao invés de simplesmente político. Um executivo com forte capacidade gerencial e inegáveis qualidades administrativas. Sabemos que este perfil enfrentaria dificuldades de adesão na corrida eleitoral, entretanto, diante do descrédito dos políticos, nunca o caminho para este candidato esteve tão aberto. O mesmo cabe para os governo estaduais.
Fato é que o país busca um nome que sirva de alternativa ao jogo Lula-Bolsonaro. Talvez ainda com um pouco de torcida da mídia, que precisa de uma terceira alternativa para apoiar. O grande risco é este postulante apresentar-se travestido de centro, mas na verdade servir apenas para carregar uma das alas em desgaste para dentro do jogo. É o caso de Marina Silva, que de centrista tem pouco, ou mesmo até de Joaquim Barbosa, com os mesmos traços.
E tudo depende ainda da solução de uma equação complexa. Para o surgimento desta terceira via, necessariamente Lula precisa concorrer, assim como Bolsonaro. Entretanto, ambos podem não estar lista de candidatos em 2018, o que altera profundamente o jogo e os postulantes ao cargo máximo da República, uma vez que o equilíbrio talvez fuja do centro político.
Sem os dois principais atores, com o desgaste dos tucanos e a impopularidade de Michel Temer, o jogo estará plenamente aberto. Nesta configuração, o caminho do meio, desejado pelo inconsciente coletivo, pode passar por qualquer um dos lados, tornando o resultado um enigma difícil de solucionar. Para um centro de verdade surgir, os opostos precisarão se apresentar.
Fonte: “O Tempo”, 06/11/2017
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