Há sete anos, quando o Instituto Palavra Aberta foi criado, muitos perguntavam sobre a real necessidade de uma entidade com propósito específico de defender e promover a liberdade de expressão no Brasil.
Muitos argumentavam que, com a queda do regime militar, o fim da censura aos meios de comunicação e a aprovação da Constituição de 1988, a liberdade de expressão não corria mais riscos e que defendê-la era algo romântico e, portanto, sem grandes dificuldades.
A realidade teimou em desmentir avaliações prévias. Quem poderia imaginar que, em tempos de liberdade, teríamos tantos desafios?
O fato é que, se olharmos a nossa volta e analisarmos os últimos acontecimentos, vemos que a promoção e defesa da liberdade de expressão não são somente válidas, como necessárias.
Uma nova ameaça à liberdade de imprensa?
A cada dia surgem obstáculos, e o desafio agora é contra a tutela do politicamente correto, o avanço de posturas totalitárias que pregam o pensamento único, a intransigência com a posição contrária, a intolerância a tudo aquilo de que não gostamos e a todos que expressam posições diferentes das nossas.
Cresce o número de casos de agressões a jornalistas e a comunicadores que são questionados publicamente, achincalhados e até perseguidos quando suas reportagens afetam personalidades.
Alguns sofrem ainda mais, a agressão transcende o mundo virtual e pode até acabar em morte. E nesse ranking, infelizmente, o Brasil está entre os primeiros colocados.
Mas não é só a imprensa que vem sendo vítima do avanço da intolerância. Todos nós sofremos a cada dia mais cerceamento, na medida que tentamos expor a nossa opinião.
Notícias falsas, todo cuidado é pouco
Passamos a ser amados ou odiados em questão de segundos por grupos organizados que visam a impor o seu ponto de vista.
O caso da suspensão da exposição Queermuseu no Santander Cultural, em Porto Alegre, é um exemplo triste dos tempos árduos em que vivemos.
Ver uma manifestação cultural ser cancelada é como ver um pedaço da nossa cultura ser jogado fora. O fato de não gostarmos de determinadas obras de arte não nos dá o direito de tirá-las de circulação.
Corremos o risco de nos tornarmos uma sociedade autoritária e gerida pelos interesses de minorias que querem determinar o que podemos ver, ouvir, ler, sentir e, principalmente, pensar.
Sofrem a livre manifestação do pensamento, a criação artística, a cultura e toda a sociedade.
Defender a liberdade de expressão é também defender as vozes daqueles que pensam diferente de nós. As regras que a garantem são plenamente conhecidas, são direitos fundamentais do cidadão e cláusula pétrea da Carta Magna.
Como bem escreveu a ministra do STF Cármen Lúcia no prefácio do livro “Pensadores da Liberdade – Volume 2”, publicado em 2016 pelo Instituto Palavra Aberta: “A tarefa (da defesa da liberdade de expressão) é contínua e ininterrupta. Mas a democracia sempre vale a pena. Sem ela, é a uniformidade que desiguala, o silêncio que ensurdece, a desinformação que angustia. Há de se manter a palavra aberta, a democracia sustentada e a convivência enriquecida”.
A liberdade de expressão é uma luta diária, embate sem fim das forças do progresso contra atavismos que historicamente nos enredam.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 19/09/2017
2 Comments