Pergunte a qualquer pessoa com uma criança em idade escolar se o filho é alfabetizado e ela não terá dificuldade em responder. Na linguagem popular: escreveu não leu, o pau comeu.
Pergunte a um educador em qualquer país do mundo o que significa estar alfabetizado e terá uma resposta inequívoca. No Brasil, vão tentar enganar, usando palavras pomposas e sem sentido. Isso explica grande parte de nosso atraso educacional. Afinal, quem tem razão?
Em recente artigo publicado neste ano na prestigiada revista “Language, cognition and neuroscience”, um dos maiores estudiosos do tema, o português José Morais, propõe uma divisão do termo em três estágios.
No português de Portugal, existem as palavras “literária” e “letrado” — a primeira corresponde ao termo inglês “literacy”, e a segunda ao termo brasileiro erudito. No Brasil, os correspondentes seriam “alfabetizado” e “letrado”. Vejamos o que José Morais sugere.
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O primeiro nível é o da literacia alfabética — o que nosso povo sempre entendeu por alfabetização: saber ler e escrever palavras e frases simples, com um mínimo de respeito às normas ortográficas. Algo que você e eu aprendemos no 1º ano da escola. Agora vem a novidade.
O segundo nível ele chama de literacia produtiva, crítica ou argumentativa. Isso corresponde ao domínio da língua ao final de um bom curso do ensino fundamental. No termômetro internacional da educação, corresponde ao nível 4 do Pisa. Nos países desenvolvidos, cerca de 29% dos jovens atingem esse nível, e no Brasil, 6,5%. Este também seria o nível mínimo adequado para o exercício da crítica e argumentação — requisitos básicos para uma democracia funcionar.
Já a literacia criativa, própria dos cientistas, escritores e intelectuais, corresponderia aos níveis 5 e 6 do PISA, atingidos, respectivamente, por apenas 8,3 e 1,1% dos alunos de 15 anos dos países desenvolvidos, e que não chega a 1,3 e 0,14% no caso dos brasileiros.
Sim, meus amigos, em matéria de alfabetização estamos mal, na base e no topo. Nossos educadores sequer se entendem sobre o significado das palavras. Não se deixe enrolar por blá blá blás. Se a escola não alfabetizar seu filho no primeiro ano, mude de escola. Veja o que está acontecendo com nossos jovens de 15 anos!
Fonte: “Veja”, 25/07/2017.
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