Novas tecnologias e processos podem modificar radicalmente a paisagem rural no mundo.
A fotografia mais comum na Ásia rural, por exemplo, são os lindos campos de arroz que se espalham em plataformas pelas montanhas ou em áreas inundadas nas planícies. Ali vemos pequenos lavradores curvados rente ao solo, descalços, usando enxadas primitivas, pulverizadores costais ou guiando búfalos que puxam sulcadores primitivos.
Agrônomos brasileiros dirão que esse modelo primitivo de produção jamais terá a eficiência da nossa agricultura intensiva em capital, altamente mecanizada e baseada em propriedades agrícolas com alta produtividade e escala de produção.
Mas estão surgindo drones que podem transformar radicalmente o processo na pequena propriedade.
Temos visto drones que permitem monitorar de perto a condição das lavouras e as operações agrícolas.
Começam a chegar ao mercado máquinas voadoras que literalmente substituem o trabalho de lavradores, animais e tratores.
Em vez do pulverizador costal, surgem drones capazes de pulverizar três hectares por hora, com ultrabaixo volume de água (8-12 litros/ha), precisão de aplicação localizada, melhores formulações e mínimo desperdício de insumos. Eles voam com base em coordenadas de GPS e são operados em sistemas de “digital farming”.
Além disso, o manejo de drones melhora as condições de trabalho, viabiliza a permanência de agricultores de idade mais avançada, reduz a exposição a defensivos e minimiza os riscos de intoxicação e de incidentes fatais com serpentes e outros animais peçonhentos, muito frequentes na Ásia, por exemplo.
No Japão o uso de helicópteros de controle remoto já é prática comum nos últimos dez anos, inclusive na semeadura de arroz. Na China, estima-se que já haja mais de 5.000 drones em operação.
Estimativas apontam que esse número possa chegar a 100 mil equipamentos até 2020. Isso significa que, em apenas três anos, cerca de 30% da área cultivada na China será manejada com drones.
Presenciamos eventos na China em que aplicações são feitas com múltiplos drones ao mesmo tempo, em paralelo, controlados em conjunto.
Tudo indica que essa revolução virá acompanhada de empresas especializadas que oferecerão insumos já aplicados na propriedade rural, compartilhando o risco da produção com os agricultores. Ou seja, em vez de adquirir sementes e defensivos, o agricultor adquire hectares de lavoura semeada e devidamente protegida contra pragas e doenças.
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O governo chinês oferece financiamento subsidiado para a aquisição de drones. Grandes fundos de investimento do país apostam nesse modelo de negócios, que pode levar a pequena agricultura asiática diretamente do século 19 para o século 21.
Ainda há dois empecilhos que dificultam a expansão dos drones na agricultura: o custo relativamente alto dos equipamentos e a falta de regulamentações específicas —formulação adequada, carga máxima, normas e habilitação de voo. Mas isso vai mudar rapidamente.
Em 2016, a China tirou do Brasil a posição de 3º maior exportador agrícola do planeta, graças a um modelo baseado na exportação de legumes, verduras, frutas e pescados, destinados basicamente aos seus vizinhos asiáticos.
Hoje a China possui mais de 3 milhões de hectares de cultivo protegido, o que representa 90% das casas de vegetação plásticas utilizadas no mundo.
O que vai ocorrer se uma revolução nas tecnologias e nos processos agropecuários permitir que os mais de 500 milhões de pequenos produtores da Ásia aumentem a sua produtividade em 20% ou 30% em poucos anos? Qual o impacto que isso terá na exportação futura de países como o Brasil?
Em tempos turbulentos, fincar os pés e as sementes no chão é fundamental, mas não podemos deixar de olhar o que está acontecendo no mundo tecnológico digital, nos céus e nos nossos vizinhos de além-mar.
Fonte: “Folha se S. Paulo”, 05/08/2017
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