Não precisa acreditar, eu também não acredito. Mas, suponhamos que o cerne da teoria marxista da revolução estivesse certo. Quanto mais desenvolvido um país do ponto de vista do capitalismo, mais apto à revolução e a passagem a outro modo de produção ‘superior’, segundo a perspectiva marxista. E estou me referindo a Marx mesmo e não de seus seguidores.
Meu interesse indireto é discutir Marx, mas para a Geopolítica, o que interessa é algo prático e, em primeiro lugar, real. Então, para que discutirmos isto? Reitero: faz de conta que acreditamos na teoria. O que teria acontecido que impediria este ‘salto’? (Para o abismo, eu diria…).
Este é o tema e interesse direto: entender o que contradiria, na prática, uma teoria. Independente de esta ter sido bem ou mal elaborada.
Explicações economicistas também não me agradam e acho que nem margeiam a questão. A economia, ao contrário do que pensava Marx, é que é reflexo. A suposição do “laboratório social”, com toda diversidade cultural que o país enseja também chega perto, mas não me é suficiente. Todas as sociedades têm seus engenheiros, médicos, filantropos, professores, soldados etc. Tem algo nos EUA que se distingue da Europa e, quiçá do mundo. Algo que complementa e encaixa nessas partes, elementos, que dá a liga.
Vou me adiantar e sei que contestarão. A excepcionalidade americana, o que liga vários traços culturais é algo bem técnico-administrativo, impessoal e que ajuda a canalizar a força ideológica da cultura e os valores americanos. Sem isto, dificilmente se poria em prática seus ideais. E prática é um conceito-chave para distinguir os EUA da velha Europa. O que inviabilizou o socialismo nos EUA é o modus operandi de seus partidos políticos.
Em The reign of lame falls mainly on McCain, a republicana Ann Coulter culpa McCain por ser um ‘independente’, por concordar com o imposto progressivo, o aquecimento global etc. Segundo ela, os republicanos vencem quando apóiam plataformas eminentemente republicanas e não de ‘independentes‘ que não reforçam seus vínculos. Sobra até para o ‘governator’ Arnold Schwarzenegger, entre outros, que tem um discurso à esquerda do Partido Republicano. Parece um Democrata falando.
Elogios mesmo, só para a ‘autêntica’ Sarah Palin. Que se critique ela, mas a governadora-caçadora de alces tem peito mesmo…
Quem se der ao trabalho de ler a lamentação mesclada com ranço e rancor, cá está: http://www.anncoulter.com/cgi-local/printer_friendly.cgi?article=282. O que esta ultra-conservadora de aparência anoréxica não entende é que, diferentemente, dos partidos europeus que primam pela pureza e ideário bem embasados ideologicamente, os partidos americanos são bases de sustentação para candidatos distritais arrecadarem fundos para suas eleições. Basicamente isto.
Claro que têm diferenças ideológicas que eu preferiria chamar de ‘programáticas’. Originalmente, os republicanos representavam os interesses do nordeste industrial, enquanto que os democratas, o sul escravagista ou pós-escravagista, mas com os mesmos vícios e preconceitos. Em termos econômicos, enquanto que republicanos primavam pelo liberalismo econômico, no que se fundaram na revolução americana antimonárquica, os democratas tinham um viés estatista, na medida em que apoiavam a transferência de renda de fundos federais para suas regiões. Algo como – guardadas as devidas proporções -, elites nordestinas fazem ou fizeram em relação às elites paulistas.
E é neste ponto que quero (e me motivou a) chegar… A razão para que ele não existisse está em sua estrutura partidária. Há o Partido Comunista nos EUA, assim como o Partido Libertário, mas que dado seus radicalismos, não angariam grande número de adeptos. Então, a solução é se associar com outros membros dos partidos dominantes para conseguir fundos para suas eleições. Assim sendo, têm que negociar e ceder. Situação totalmente diversa daquela encontrada do outro lado do Atlântico onde muitos partidos têm programas fechados e só entra quem partilha dos mesmos. No caso americano, a própria liberdade de expressão funciona como uma ‘vacina’ contra estes excessos, na qual as opiniões mais dogmáticas são constantemente testadas pelo escrutínio popular. Ou seja, é a democracia que proporciona a exclusão de idéias que seriam, em essência, uma ameaça à própria democracia.
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