Saio do Ceará animada, depois de rápida visita para fazer uma palestra em um simpósio de desenvolvimento infantil. Apesar de ter acompanhado ao longo dos anos os avanços da educação no Estado, uma conversa com o secretário de Educação fez-me entender ainda mais os desafios persistentes e o sucesso das escolas do Ceará.
Vivemos tempos difíceis no Brasil, com uma crise multifacetada e particularmente difícil de ser enfrentada. Trata-se de uma crise fiscal, econômica, política, institucional e de credibilidade, o que torna reduzida a possibilidade de sustentabilidade de boas políticas públicas.
E é aí que os resultados educacionais do Estado surpreendem. Não que sejam os melhores do país, mas consistentemente, a cada edição da Prova Brasil, a aprendizagem melhora, resultando numa nota padronizada de 6,0 para o 5º ano e 5,9 no 9º, tendo apresentado o melhor Ideb do Nordeste.
O resultado no ensino médio, no entanto, apresenta os mesmos desafios do resto do Brasil. Num patamar muito baixo, apresenta progressos lentos. Mas isso resulta de uma decisão de política pública de enfatizar o regime de colaboração e apoiar os municípios num esforço para garantir que toda a criança de 7 anos esteja alfabetizada, a partir do Paic, o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, que depois inspirou o Brasil no desenho de programa semelhante, ainda sem resultados expressivos.
Mas, no Estado, chama a atenção o impacto das medidas: 77 das 100 melhores escolas públicas do Brasil estão no Ceará. Todos os municípios atingiram as metas de melhoria estabelecidas pelo MEC para 2015 e a cidade de Sobral apresentou o melhor Ideb do país, com 8,8.
Desde então, o Estado vem atuando com mais força no ensino médio, ampliando o número de escolas em tempo integral, trabalhando com o desenvolvimento de competências socioemocionais e investindo em seus professores, inclusive com tempo para trabalho colaborativo dentro de cada escola. Além disso, ampliou o pacto com os municípios tanto para o ensino fundamental 2, com intensa formação de professores, quanto para a educação infantil, incluindo não apenas um currículo para educação na primeira infância como visitadores domiciliares para estimular melhores interações entre os pais e os bebês e apoio à leitura de livros para a faixa etária.
O secretário tem uma sala de situação onde monitora sistematicamente a aprendizagem em todas as escolas.
Ainda há muito o que fazer, mas o exemplo do Ceará mostra que, sim, mesmo em Estados de menor nível socioeconômico, com problemas como crime e vulnerabilidade, é possível avançar e garantir o direito de aprender de todos. O Brasil merece!
Fonte: “Folha de S. Paulo”
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