Olhando para trás, na análise do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, há motivos para festejar. Afinal, o crescimento ficou acima do esperado, 1,5% contra o trimestre anterior (que variou 0,6% contra o quarto de 2012), chegando a 3,3% contra o mesmo do ano passado e 2,6% no ano. Grande foi a contribuição do setor agropecuário, crescendo 13%, e da indústria (2,8%), com a taxa de investimento em destaque pelo lado da demanda, ao crescer 9% contra o mesmo trimestre do ano anterior.
Olhando para frente, no entanto, não dá para manter esse clima de otimismo. No horizonte, surgem mais nuvens do que céu de brigadeiro. O segundo semestre não vem sendo fácil. O câmbio segue depreciando, com o dólar a R$ 2,37, tanto por fatores externos, como por internos.
Nos externos, a possível virada do QE3 [quantative easing] norte-americano agora, em setembro, mobiliza, assim como as tensões com a escalada bélica na Síria. Nos internos, há um clima de descrença em relação à condução da política econômica do governo. Indicadores antecedentes, como os de confiança da indústria, serviços, comércio e construção civil, corroboram isto. Mais ainda temos a inflação ameaçando, contaminada pelo câmbio depreciado, mas também por possíveis choques agrícolas e de serviços. Não esqueçamos também do efeito disseminador de um reajuste da gasolina, a ocorrer até o final deste ano, dada a defasagem entre preços internos e externos no mercado de petróleo.
Piorando tudo, voltemos a lembrar das tensões no Oriente Médio, com a intervenção militar dos EUA na Síria como inevitável, volatilizando ainda mais os mercados de ativos e jogando a cotação do petróleo nas alturas, acima de US$ 115. Risco maior se esse conflito se espalhar e entrarem outros atores. Em outubro, temos a proximidade das negociações do Congresso norte-americano em torno da votação do limite de endividamento, um mês antes a eleição acirrada na Alemanha, com Ângela Merkel correndo perigo. No Brasil, esse clima de descrença se espalha também pela agenda de concessões, com o pouco interesse do setor privado.
Nesse cenário, é possível que o crescimento do PIB do terceiro trimestre registre um desempenho mais fraco, até mesmo uma queda em relação ao segundo, inclusive porque a base de comparação, agora, é maior. Aguardemos os dados consolidados até novembro e o desenrolar dos fatos, aventados acima, para se ter um desenho mais nítido do período.
Sobre o PIB do segundo trimestre, cabem algumas considerações.
• Seu desempenho teve forte influência dos investimentos, que cresceram 9% contra o mesmo trimestre do ano passado. Com isso, a taxa de investimento foi a 18,6% do PIB. No entanto, é considerada baixa para sustentar um crescimento mais forte no longo prazo, sendo necessário entre 21% a 25% para mantê-lo. Para piorar, a poupança segue baixa, tendo recuado de 16,9% do PIB no segundo trimestre de 2012 para 16,6% neste ano. Na China e em outros países asiáticos, esses indicadores passam de 40%. Por outro lado, o consumo das famílias perdeu força, dado os riscos de endividamento e de inadimplência, pelo aperto monetário em curso: cresceu 0,3% contra o trimestre anterior, depois de se manter estável no primeiro. Isso pode ser um bom sinalizador de mudança (mesmo que lenta) na qualidade do crescimento, agora mais focado em investimentos e menos nos estímulos ao consumo.
• Continuamos distantes na comparação entre a análise do PIB e sua “conhecida prévia”, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que, no segundo trimestre, cresceu apenas 0,9% contra o período anterior, enquanto que o PIB aumentou em 1,5%. Tal diferença pode ser explicada por distintas metodologias, como o “efeito calendário”. Nesse sentido, talvez seja interessante usar o indicador de atividade do Banco Central (Bacen) como sinalizador de tendência e não como prévia do PIB geral.
• Observamos ritmos diferenciados entre a indústria e o comércio. Este último, pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perde força pelo esgotamento da capacidade de endividamento das famílias, como também pelo aumento da inflação. Já a indústria, pela Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM), do IBGE, está reagindo, com destaque para os segmentos ligados a bens de capital, mas também pela reação das exportações. Com isso, observa-se pelo gráfico a seguir esta “boca do jacaré se fechando”. O problema é que com essa falta de sincronia entre indústria e comércio é inevitável, para os próximos meses, o acúmulo de estoques na indústria, com especial atenção para os segmentos de duráveis.
• Concluindo, o desempenho do PIB no segundo trimestre deve ser saudado, mas, pelos sinais negativos do terceiro, pode acabar como “ponto fora da curva”. Pelo lado da oferta, o setor agropecuário veio mais forte, porém, sua participação no PIB é baixa, apenas 5%. O PIB industrial também cresceu 2%, mas a indústria extrativa recuou 3,9%, talvez em decorrência da crise que atravessa a empresa estatal de petróleo do país. Por outro lado, a indústria de construção civil avançou 4%, depois de recuar 1,3% no trimestre anterior. Os serviços cresceram 2,4%, depois de 1,9%, mantendo o mesmo ritmo dos últimos trimestres, sem novidades. Lembremos que este segmento tende a responder menos às variações do PIB geral. Pelo lado da demanda, destaque para a taxa de investimento, avançando 9% contra o mesmo trimestre do ano passado. O consumo privado cresceu 2,3% e o do governo, 1%. As exportações também chamaram a atenção ao crescerem 6,3%. Enfim, como observamos no gráfico, há um processo de retomada da economia, mesmo que muito errático e sujeito a impactos (descritos acima) gerados pelos cenários interno e externo. A biruta deu uma ajustada, mas continua meio tonta.
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