Na noite de domingo mais de um terço dos eleitores cariocas se perguntou aonde tinha ido parar o seu voto. Eleitores que seriam pejorativamente carimbados como centristas não viram seu candidato passar para o segundo turno. O que os unia seria acreditar em candidatos com experiência em gestão e distantes dos radicalismos do espectro político. Parece fluido, mas o que há de sólido nas plataformas partidárias e nas propostas de governo?
O desconforto desses eleitores era ainda maior ao ver que um candidato com apenas 18% dos votos havia conquistado o direito de disputar o segundo turno. Reparem que esse candidato encolheu em relação à disputa de 2012 – perdeu 360 mil votos – mas achou seu caminho para a rodada decisiva. Teria obtido, nas suas palavras, “vitória histórica”, mesmo com 39% de queda nos seus votos. A marcha da história tem as suas contradições.
Por que o campo político majoritário não conseguiu superar a barreira do primeiro turno? Um idiota da objetividade de pronto diria que foi porque esse eleitorado se dispersou em três candidaturas. Mas no campo da esquerda também havia três candidatos; somados não ultrapassaram 23% dos votos. Mais uma evidência que esse bloco perdeu expressão em relação à eleição anterior. Uma das explicações seria então que houve uma tendência de voto útil na esquerda e que os dois outros candidatos não despertaram tanta paixão; a candidata apoiada pelo PT, Lula e Dilma, assim como o candidato apoiado por Marina Silva, tiveram votação inexpressiva.
Seria então o eleitorado da esquerda mais atento e pragmático? Ou por outra, por que não houve voto útil no centro? Vale notar que as pesquisas eleitorais erraram bastante nos dias que antecederam as eleições. Superestimaram as intenções de votos de diversos candidatos, sugerindo uma distância maior que a real para os dois líderes e os candidatos do centro mais embaralhados. Ficou difícil identificar se haveria um voto útil no horizonte do centro e quem seria o destinatário natural desse movimento.
Mas acho que há outra e mais importante razão para esse resultado. A maioria dos partidos e políticos brasileiros não tem compromissos programáticos. As candidaturas e campanhas refletem principalmente as circunstâncias. Eduardo Paes foi eleito em 2012 por uma ampla aliança que ia do PRB até ao PC do B; seu vice prefeito era indicado pelo PT. Como pano de fundo dessa aliança as costuras dos então fazedores de reis Lula e Sérgio Cabral. Vários candidatos que disputaram no domingo passado tendo a crítica à gestão de Paes como seu foco principal participaram dessa coligação.
Na maioria das eleições majoritárias locais, os quadros de alianças se modificam radicalmente de uma eleição para outra. Hoje são adversários, mas ontem eram aliados e na próxima estarão novamente juntos. Partidos e políticos. Esses, inclusive, não hesitam em abandonar partidos para buscar suas ambições pessoais. Como achar que isso é normal? Essas são práticas que reforçam o nosso subdesenvolvimento político. E essa é uma triste constatação: a nossa política é mais atrasada que o país. A alta abstenção e os elevados votos em branco e nulos na eleição carioca são evidências adicionais dessa indesejada realidade.
Na ressaca de segunda-feira, muitos eleitores se perguntaram por que não houve convergência, por exemplo entre Índio e Osório. Claro que candidaturas são partidárias e junto com a eleição majoritária há um exército de candidatos a vereador que não podem ser abandonados ao mar. Mas no fundo, essa convergência nunca esteve na mesa porque ambos candidatos se guiaram por projetos pessoais que ficaram à frente dos interesses de seus eleitores. Para ser justo: legítimos projetos pessoais que tinham como objetivo comandar essa cidade que agora está ao alcance de duas candidaturas que são rejeitadas por esse imenso eleitorado que ficou à deriva.
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