A presidente da República, Dilma Rousseff, disse em Londres, no fim da semana passada, que o único motivo pelo qual o governo concede benefícios fiscais a alguns ramos da indústria é o compromisso das empresas com a criação de empregos.
Único. Por trás dessa declaração, é evidente, estava o anúncio da decisão da General Motors de paralisar a produção da fábrica de São José dos Campos.
A princípio, o fechamento seria justificado pela retirada de linha dos modelos fabricados no Vale do Paraíba e compensada pela criação de novos postos de trabalho em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, em Gravataí, no Rio Grande do Sul, e na nova fábrica de motores que está para entrar em funcionamento da cidade catarinense de Joinville.
O anúncio foi inoportuno e malconduzido – embora não se possa negar as razões da companhia para fazê-lo. Tudo indica que a paciência da empresa com o sindicato dos metalúrgicos da região, comandado pelo irritante e anacrônico PSTU, estaria por trás da redução do interesse da empresa por essa fábrica específica.
A GM não divulgou os números dos empregos que seriam (ou que já foram) criados em substituição aos de São José dos Campos, mas a Anfavea (a associação que representa as montadoras brasileiras) divulgou na sexta-feira passada números gerais sobre os empregos nessa atividade.
A quantidade de trabalhadores empregados nas fábricas de automóveis do país (de 147 mil no mês passado) é hoje ligeiramente maior do que em janeiro deste ano (quando alcançava 145 mil) e bem maior do que em junho do ano passado (quando era de 131 mil).
Diante disso, o puxão de orelhas presidencial deixa de fazer sentido – uma vez que houve manutenção dos postos de trabalho mesmo no período crítico com o qual as companhias conviveram antes de Brasília decidir reduzir os impostos.
Pelo sim, pelo não, as declarações da presidente mostram que o governo não perde a mania de tratar as empresas como inimigas dos interesses do país.
É como se os “beneficiados” (entre aspas de todo tamanho) pela redução de impostos tivessem deixado o inferno e entrado no paraíso só porque o governo decidiu reduzir tributos que eram descaradamente indecentes e transformá-los em impostos apenas indecentes.
Na verdade, a redução oferecida pelo governo (assim como a política de estímulo ao crédito ao consumidor) alivia a situação, mas não oferece a chance de um planejamento de longo prazo.
Independentemente da questão fiscal (objeto de discussões frequentes neste espaço), as empresas brasileiras precisam se preocupar com sua gestão e seus processos – e nesse esforço, em algumas situações, a redução de postos de trabalho acaba sendo uma imposição das circunstâncias.
A questão é que a mesma modernização que elimina empregos aqui acaba estimulando o crescimento da economia e a criação de postos de trabalho, resultantes de novos investimentos feitos por outras companhias. Tem sido assim há décadas e décadas. E vai continuar assim por muito tempo.
Fonte: Brasil Econômico, 30/07/2012
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