A estratégia de pacificação das favelas foi o principal tema de debate em evento promovido pelo Instituto Millenium. “Violência no Brasil: Como reverter esse quadro?” reuniu especialistas em segurança pública da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), no Centro do Rio.
No cenário do legado do populismo, da disseminação do poder dos comandos fora dos presídios e do surgimento das milícias – algumas das causas apontadas para que a capital fluminense tenha sido considerada um caso excepcional no âmbito da violência no país –, os participantes do evento destacaram a política de pacificação como sendo um desafio bem-sucedido para a reversão mais imediata dessa situação.
Leandro Piquet, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP e coordenador do Programa de Pesquisa em Segurança e Criminalidade do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da mesma universidade, reconheceu a melhora de vida nas áreas de intervenção da polícia. “A inovação da proposta das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a sua defesa com liderança de qualidade foram as grandes razões para o sucesso da estratégia”, disse.
Contudo, Piquet destacou que devem ser desenvolvidos modelos diversificados de pacificação. “Não podemos ficar engessados em um modelo único”, afirmou. Além disso, o professor da USP e especialista do Imil comentou que a continuação do processo de pacificação exige o envolvimento de outras áreas do Governo.
Já Claudio Beato, sociólogo, professor e coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, analisou a importância da reestruturação da polícia. Ele ressaltou a centralidade dessa instituição para a democracia e o atraso do Brasil.
“Em nosso país, os fatores institucionais são muito fortes. A população brasileira tem medo da polícia. Sabe-se, notoriamente, que a chance de vitimização é maior quando a confiança na polícia é menor. E o nível de corrupção na corporação tem impacto direto na falta de confiança da população” explicou Beato, para quem devem ser criados novos modelos institucionais de polícia, com mais transparência, porém mantendo aqueles já estruturados.
Economista e professor da PUC-RJ, Claudio Ferraz avaliou a relação entre a presença da polícia e a violência urbana, apresentando resultados de sua pesquisa inédita sobre corrupção e qualidade dos governos. “O grande objetivo da UPP é o controle de território. A pacificação diminuiu a violência dentro de comunidades pacificadas e em comunidades não pacificadas. Além disso, a estratégia promoveu o aumento da confiança na polícia. Hoje, as pessoas se sentem mais seguras para denunciar o tráfico, crimes em geral e até o abuso de poder da própria polícia”, observou.
Apesar dos avanços, Ferraz destacou que o grande desafio, agora, é garantir a sustentabilidade da estratégia e os efeitos no longo prazo. “Para tanto, são necessários investimentos sociais importantes”, concluiu o economista.
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