O Brasil voltou a debater o anacrônico tema que opunha monetaristas e desenvolvimentistas. Melhor seria que os responsáveis pela política econômica do país saíssem de seus gabinetes, deixassem um pouco de lado as teorias e as tentativas de administrar índices para viver mais a realidade dos mortais.
Não é preciso esperar o IPC de nenhum instituto para constatar como o custo de vida subiu. O tíquete-refeição de qualquer trabalhador não compra o mesmo número de almoços do mês anterior já há algum tempo, por mais frugal que seja a reunião de convivas do meio-dia.
Não se está aqui fazendo a apologia da alta dos juros para conter a inflação. Certamente há outros métodos que podem ser postos em prática.
Um deles deve partir do próprio governo, na firme demonstração de zelo pelas contas públicas. Uma boa dose da majoração dos preços advém da desconfiança que industriais, comerciantes e prestadores de serviços têm de que ficarão com o mico dos desarranjos econômicos que se espalham pelo mundo e têm reflexos no Brasil.
Outra boa dose vem da impressão de que o mico pula para as costas da população sempre que se negocia o que quer que seja no Congresso Nacional. A sensação é de que a conta invariavelmente será espetada no lombo do contribuinte em forma de mais tributos.
E uma boa dose vem da natural ambição do ser humano de sempre querer ganhar um pouco mais.
O que se espera do governo é que, no mínimo, cumpra a sua função de moderar todos esses interesses e busque saídas mais simples e de efeito mais imediato para controlar a carestia.
O Brasil não passou por guerras sangrentas, que deixaram faminta a população das nações em conflito. Mas viveu um longo tempo (nos anos 1980 e meados dos 1990) sem ter noção de qual era o preço justo de qualquer item de consumo.
As empresas passavam a maior parte do tempo atrás de aplicações financeiras que lhes garantissem uma remuneração que não obtinham no desenvolvimento e na venda de um produto ou serviço.
Seus empregados imaginavam que o salário aumentava todo mês, por causa da reposição da inflação dos 30 dias anteriores, e não conseguiam entender direito por que, mesmo com um valor maior no holerite, levavam cada vez menos bens para casa nas compras do mês no supermercado.
A inflação é a síntese do subdesenvolvimento de um país. Ela impede que as empresas evoluam e limita qualquer tipo de comparação que envolva valores, sobretudo pelas camadas menos favorecidas economicamente da população, as mesmas que ascenderam nos últimos anos e serviram de empuxo para o Brasil contornar a crise financeira mundial que vem causando estrago em todo o outrora mundo desenvolvido.
A volta da inflação será uma crueldade com os novos consumidores e um fracasso para o país.
Fonte: Brasil Econômico, 17/10/2011
Vamos combinar: Abandonar o objetivo de buscar convergir a trajetória da inflação para o centro da meta é abandonar de forma irresponsável uma das melhores práticas dentro da boa governança da política monetária, que vem ocorrendo já há mais de uma década. Isto significa um considerável risco de atingir de forma malévola a boa reputação e credibilidade que o BC conquistou junto aos agentes econômicos em geral, inclusive os investidores internacionais e as agências de rating, que mensuram a…