Ao contrário do esperado das expectativas de um bloco comercial, as principais conquistas do Mercosul residem mais no campo político do que no campo comercial. É verdade que, nos seus primeiros anos de vida, o Mercosul significou um aumento expressivo das trocas comerciais entre os seus membros, indicando um momento de sucesso na sua natureza fim. No entanto, esse “sucesso” teve vida curta. Hoje, em função de um amplo conjunto de obstáculos, o bloco tem dificuldade de: lidar com suas listas de exceções; se integrar a outros blocos ou até países – ficando de fora da tendência dos últimos tempos -; e, por fim, de incrementar o volume de comércio intra-bloco, que permanece virtualmente estagnado.
Por outro lado, politicamente falando, o Mercosul é resultado de uma iniciativa pioneira, na qual, Brasil e Argentina, dois dos principais países do continente sul americano conseguiram lidar com um passado de desconfiança e rivalidade. O bloco faz parte do corolário de uma nova narrativa que pressupões não apenas a coexistência pacífica entre estes países, mais ainda na importância da cooperação entre eles. Esse movimento também pode ser exemplificado pelo Acordo Quadripartite que lida com a questão nuclear.
Nesse sentido, o Mercosul serviu, e serve até hoje, como um importante mecanismo de construção de confiança e diálogo entre os seus membros que tende a aproximá-los.
Paradoxalmente, o elemento político parece ser vítima do seu próprio sucesso. Atualmente muitos criticam a preponderância do elemento político no Mercosul, e como que esse predomínio tendeu a constranger a sua vocação econômica.
De fato, especialmente nas ultimas eleições presidenciais no Brasil em 2014, o tema do Mercosul foi um dos poucos temas do debate relativo a agenda internacional das campanhas. Ali estavam postas correntes opostas. Uma entendia que o viés político-social do Mercosul deveria ser fortalecido e que as “conquistas” comerciais deveriam ser ainda consolidadas. Pelo outro lado, haviam aqueles que jugavam que o Mercosul enquanto um bloco econômico não apenas havia fracassado, como ele ainda era um obstáculo para novas parcerias comerciais do Brasil. Assim, estaríamos melhor sem ele.
É realista indicar que o Mercosul passa um momento difícil. Sua estagnação comercial intra-bloco e sua dificuldade de fazer acordos comerciais relevantes é dado inconteste e que merece atenção urgente. No entanto, ainda assim é necessário conceder que houve conquistas comerciais, além das já citadas conquistas políticas. O fim do Mercosul seria uma derrota considerável não apenas para o país mas para a região – tanto comercial quanto política. O futuro do Mercosul deve buscar mitigar os obstáculos para que o bloco possa se reinventar e expandir suas fronteiras na América do Sul e se integrar melhor na nova arquitetura comercial internacional que está em formação.
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