O mercado nunca reage a más notícias de modo abrupto. A primeira reação será sempre a de negação. Quando os investidores começam a dar ouvidos às advertências dos supostos “pessimistas”, ainda assim não se darão por convencidos. Mas, nesse ponto, começa o descolamento entre a verbalização e a ação.
As declarações continuarão otimistas mas o dedo do investidor passa a ficar preso ao gatilho para disparar ordens de venda ao menor sinal de agravamento dos sintomas da crise.
Já deixamos a fase inicial de negação para trás, desde que ficou claro o limitado efeito dos choques sucessivos de liquidez (os chamados afrouxamentos monetários) operados pelos governos dos principais países, na China, nos EUA e, recentemente na Europa, por meio do refinanciamento de compromissos bancários da ordem de € 1 trilhão, a três anos de prazo.
E a segunda fase também já está passando rapidamente. Os mercados operaram no campo defensivo desde meados de abril, produzindo um expressivo recuo das cotações de risco e fuga em massa para os tradicionais refúgios nos papéis de dívida alemã, americana e japonesa.
Nos últimos dias, porém, como havíamos antecipado diversas vezes nesta coluna, o cheiro do pânico substituiu o bom-mocismo de falar de recuperação e operar o agravamento da crise.
O elemento novíssimo? A chegada da Espanha ao atendimento de emergência do hospital financeiro. A Grécia saiu de moda diante do tamanho do prontuário de passivos dos bancos espanhóis. Tudo estava lá. Todos os passivos haviam sido supostamente refinanciados.
Mas o banqueiro central espanhol agiu como um piloto maluco: abandonou o comando da aeronave em pleno voo.
O ministro do Orçamento, Cristobal Montoro, vocalizando o governo espanhol, deu o aviso: “Não temos mais como nos financiar no mercado”. O jogo acabou, antes da pretendida reunião de emergência dos líderes europeus.
Estamos na terceira fase, em que o mercado não nega mais nada, aposta contra, mas apenas conserva a educação de não abandonar o salão de festas em louca debandada, por receio de ser pisoteado pela malta apavorada. Todos vão tentando sair de fininho.
A fase final se aproxima e podemos perceber os sinais de sua presença a olho nu. O recuo forte do preço do petróleo é um sintoma. O do ouro também. O aumento excepcional da rolagem dos compromissos dos bancos europeus em prazos muito curtos, de uma semana ou menos.
As agências de risco tradicionais correm para ajustar as notas dos países malfalados e isso também é outro claro sinal de que o pior já chegou e entrou na sala sem pedir licença.
Para os brasileiros, ainda enfiados nos shoppings e fazendo fila para a próxima compra que comprometerá anos de sua renda futura com bens de alto valor, a defasagem entre percepção e reação continua dramática, para não dizer trágica.
O susto coletivo das próximas semanas no mundo poderá nos dar a chance de rever o modelo de alto consumo brasileiro, com o qual temos insistido em enfrentar os efeitos gigantescos da crise mundial, agora com contornos claros de depressão, cujo nome medonho evitamos pronunciar até hoje. Não dá mais para segurar.
Fonte: Brasil Econômico, 08/06/2012
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