O Ensino Médio é a última etapa da Educação Básica e tem como objetivo proporcionar aos nossos jovens o acesso ao Ensino Superior e ao mundo do trabalho. Mas não é isso o que acontece com a grande maioria. Cerca de 1 milhão de jovens na faixa etária de 15 aos 17 anos estão fora da escola e sem desenvolver nenhuma atividade remunerada permitida pela legislação para essa faixa etária. Esse grupo pode ser considerado o berço dos chamados “nem-nem”, que nem estudam e nem trabalham.
Consideremos agora a faixa etária de 15 aos 29 anos – aquele grupo de jovens que é estratégico para o desenvolvimento de qualquer país, desde que tenham recebido uma formação educacional sólida, da Educação Básica ao Ensino Superior, podendo incluir a formação para o mundo do trabalho. No Brasil temos hoje nessa faixa cerca de 10 milhões de jovens que não estão estudando e nem trabalhando, e cuja maioria nem sequer completou o Ensino Médio. E o pior: dos que concluíram essa última etapa da Educação Básica, a maioria o fez com níveis de aprendizagem extremamente baixos. De cada 100 alunos concluintes, apenas nove aprenderam o que seria esperado em matemática, e vinte e sete em língua portuguesa.
Que futuro podemos esperar para o Brasil diante desse quadro? Sem esquecer que, diferentemente de outros países, o Brasil ainda usufrui de um bônus demográfico, mas deve perdê-lo até 2030. Estamos diante de uma situação extremamente grave – até mais grave do que o atual quadro econômico por que passa o país. A economia pode se recuperar mais adiante, a partir de ajustes e medidas fiscais, equilibrando os gastos públicos com a receita e trazendo de volta a confiança dos investidores. Mas quando se perde uma geração de jovens, estamos diante de uma situação muitas vezes irreversível e crítica de falta de esperança quanto ao nosso futuro. Por isso, não dá mais para esperar que algum milagre aconteça para melhorar o nosso Ensino Médio.
Só com o abandono escolar no Ensino Médio, o país perde por ano cerca de R$ 3,7 bilhões de reais. Isso é o reflexo de um ensino que não dialoga com o mundo dos jovens, de uma escola chata como disse Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, em sua coluna no UOL Educação. Os jovens querem uma escola que caiba na vida. Portanto, se fizermos a coisa certa, teremos dinheiro para mudar o atual quadro, se considerarmos o que se perde com abandono escolar.
Horário Integral, formação de professores
A boa notícia é que já temos soluções para enfrentar essa situação. Precisamos agora dar a elas escala nacional. Por exemplo, o estado de Pernambuco iniciou, há doze anos, o programa de Escolas de Referência de Ensino Médio em tempo integral, cujos alunos têm um desempenho escolar bem superior ao daqueles que estudam em escolas de tempo parcial.
Mas não se trata apenas de mais tempo na escola. Esse modelo inclui um currículo de educação integral, com professores bem preparados e uma gestão escolar qualificada e profissional, assim como o implantado no estado do Rio de Janeiro, mas sem a escala de Pernambuco. O abandono escolar nessas escolas de tempo integral com educação integral é próximo de zero.
Cito apenas esses dois casos, cujos resultados são apoiados por avaliações de desempenho. O custo para manter essas escolas é da ordem de 40% a mais com relação àquelas de tempo parcial. Mas elas funcionam! Esse valor, por sua vez, é bem menor do que aquele que se perde com o abandono escolar. Segundo Derek Bock, ex-presidente da Universidade de Harvard, se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância.
Felizmente, o Ministério da Educação (MEC), os secretários de Educação dos estados, através do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), e a sociedade civil estão dispostos a enfrentar a atual situação do Ensino Médio no Brasil. A meu ver, o problema financeiro é o menor, pois me parece que o maior deles é de concepção – tomar a decisão política que interessa aos nossos jovens e ao Brasil. Os interesses específicos não podem se sobrepor aos interesses maiores de uma nação.
Estamos diante de uma escolha. Penso que não deve ser difícil fazê-la, se quisermos ter um país com futuro. E esse futuro só se constrói com jovens bem formados!
Fonte: “Correio Braziliense”, 08/09/2016.
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