Ontem, na Fecomercio, em São Paulo, participei de um debate sobre os 100 primeiros dias do governo da presidente Dilma Rousseff numa mesa que reuniu alguns dos nomes com quem mais aprendi sobre a economia do Brasil.
Ali estavam os professores Antônio Delfim Netto, Yoshiaki Nakano e Paulo Rabello de Castro, além do economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, e do ex-deputado federal pelo PT de Minas Paulo Delgado.
E eu ali, em meio a tantos mestres. Rabello de Castro, moderador, disse logo no início que estava com os olhos voltados mais para os próximos 1.360 dias. Delfim o corrigiu: “Não são 1.360, são mais de 2.800”.
Ou seja, aos olhos do ex-ministro, Dilma já pode contar com o segundo mandato. De um modo geral, e com as ressalvas necessárias em relação ao equilíbrio fiscal, ao câmbio e à inflação, acabou prevalecendo a ideia de que a agenda do governo Dilma coincide com a da sociedade.
É aí que está sua maior virtude e a origem de sua boa avaliação. Na própria mesa, no entanto, estava o melhor exemplo de que nem sempre a intenção do gestor público é suficiente para garantir que a agenda se transforme em medidas concretas.
Quando era ministro do Planejamento, no início dos conturbados anos 1980, Delfim Netto apresentou uma proposta de reforma da Previdência muito bem estruturada.
Se tivesse sido aprovada àquela altura, talvez impedisse que o sistema de aposentadorias no Brasil se transformasse em algo parecido com a usina de Fukushima depois do tsunami: ainda não destruiu tudo, mas mete medo em todo mundo, pode trazer problemas graves e comprometer o que há de saudável à sua volta.
Por mais que tentasse, o mais poderoso ministro que o país já teve não conseguiu emplacar essa e muitas outras ideias. O vento é, sim, favorável a Dilma. Mas há limites para tudo. Se ela quiser mesmo aprovar algo no Congresso, tem até o dia 31 de dezembro deste ano para tentar.
Depois, vêm as eleições municipais e não haverá maioria capaz de se fazer presente em qualquer votação relevante. A agenda do governo é correta.
Falta, agora, que aqueles que desejam as reformas necessárias se organizar e fazer um movimento capaz de anular a pressão de quem não as deseja. Do contrário, não adianta Dilma querer: nada andará.
Fonte: Brasil Econômico, 08/04/2011
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