A eleição para Presidente do Brasil em 2010 já é um fato histórico de importância equivalente às “diretas já” e ao inicio das ditaduras militar e de Getúlio Vargas. O dia 03 de outubro vai definir o que em física se chama de “momento da força” nesta curva da História. O resultado eleitoral, qualquer que seja, lançará o País numa fase ainda não conhecida, mas definitiva: o alinhamento aos conceitos da democracia praticada nas vizinhanças, exóticos para a maioria no Ocidente, ou algum tipo de enfrentamento. Não haverá vitória do governo assim, como se o PT fosse grandioso; e não haverá vitória da oposição assim, como se ele fosse democrático. Nascerá “outro País” destas urnas, com nova e duradoura realidade. Ganhem ou percam Lula – PT – Dilma. Estamos agora experimentando o resultado de um novo “momento da inércia” de uma oposição indolente, ou pusilânime.
Se conseguirem seu 3º mandato, então o Brasil já terá decidido ser o País e o Estado cobiçados por Lula e pelo PT, e a eles pertencer. Os demais serão coadjuvantes menores, legitimadores do resto deste filme sobre a nova ordem doméstica.
Na outra hipótese, se perderem, o Brasil também não será mais o mesmo. Todas as indicações são de que haverá enfrentamentos heterodoxos permanentes, vindos dos variados fronts e bunkers que já “pertencem” ao PT. Não sairão de seus atuais postos e manterão vivas suas conhecidas e também as desconhecidas “guerrilhas”, ou mais que isto. Neste caso, a reação terá que ser necessariamente correspondente – provavelmente maior –, num cenário conflagrado. Ou capitular.
Ambos os cenários serão determinados apenas pelo PT, que por definição não deseja compreender nem aceitar certas regras da democracia, dentre elas a possibilidade de perder a eleição para Presidente. A lógica é esta mesma – “se eles ganharem ou se eles perderem” –, pois pouco importam os coadjuvante ao lado de Lula ou opostos. Serra e FHC são figuras que apenas “aditivam” o complexo combustível petista: mimetizar e odiar tucanos.
A próxima encruzilhada da História Brasileira tem 90º para ambos os lados, e já chegou: um caminho é oposto e excludente do outro, infelizmente. Tudo ainda confuso e imponderável, como imponderável é o PT.
Além disso, são muitos os fatores inéditos, incidindo como dado novo ou deixando de incidir como antes, na equação eleitoral brasileira: novos atores e lideranças, papéis trocados ou invertidos, ambiente econômico internacional embaralhado, o eixo de poder político no torno – aqui, literalmente, e também no mundo.
Ganhando e seguindo com este sucesso popular, como Hugo Chávez, não importará o que você ou a imprensa pensam sobre a democracia e os seus valores, ou sobre economia e política. Será como eles quiserem, e talvez já saibamos o que eles querem. Também não importará muito o “sucesso internacional” do País, cujo conceito é um para você e outro, oposto, diferente ou irrelevante para as pessoas que decidirão sobre o caminho a tomar, nesta área.
Havendo segundo turno, guerras e guerrilhas vão começar desde logo, com grande chance de virar a mesa, como gostam de cogitar. Estruturas e organizações para isto eles têm aos milhões – os formais e poderosos CUT, sindicatos, os violentos MST e correlatos e o próprio cipoal do PT aparelhado na árvore do poder estatal. Farão tremer a terra no campo e nas cidades, com violência. Organizações auxiliares e marginais já paralisaram São Paulo por muito menos. O Parlamento será novamente a vítima, hoje um estorvo para este jeito de governar.
O caminho que trilharam foi longo e não será uma mera eleição que os fará agora abrir mão da vitória de sua “revolução” – ideia falsa da qual se apropriaram, que acreditam como nunca antes neste País. A alternância de poder é pura expressão de uso eventual, repetição de jargões e conceitos no “piloto automático” dos discursos dos companheiros. Alternância até existe, exceto para a Presidência da República, de agora em diante. As armas mais poderosas desta “revolução” foram a palavra falsa, a apropriação de ideias e coisas e a dissimulação – fazer-se passar por partido político convencional e por seres políticos em busca da ética e dos valores democráticos. Eram apenas ferramentas para chegar ao poder.
Utilizaram uma espécie de “proselitismo científico”, provavelmente filho da dialética marxista com o vendedor de bilhete premiado. Abusaram da programação neurolinguística (é só observar como Dilma imita Serra “no que se refere” e no “punir o malfeito” sem cerimônia), e ficaram tão bonitos quanto o mais bonito e habilidoso dos anjos.
Finalmente gostaram do velho e capitalista “como fazer amigos e influenciar pessoas” e o incrementaram com as modernas estratégias rapport, tornando-se mestres no que já era uma tendência natural – a manipulação de ideias e de palavras sem a menor sinceridade. São muito inteligentes, pois esta é a característica do tipo penal. Levam consigo os ingênuos até onde dá, roubando-lhes a boa fé para oferecer como isca de pescar povo. É só ouvir o Dr. Hélio Bicudo, dentre muitos.
Estão de tal forma empilhados e arraigados nas estruturas do Estado brasileiro, que não há hipótese de “entenderem” agora o conceito civilizado de como perder uma eleição presidencial e transmitir a faixa ao adversário, como foi em 2002, quando a receberam.
Questões práticas são agora mais fortes que tudo, neles. A captação de recursos pela Petrobras e a perspectiva do pré-sal, por exemplo, tornam a estatal sua fonte definitiva e inesgotável. A Diana de Éfeso para a Copa do Mundo, as Olimpíadas e todas as suas novas cobiças e aflições futuras – pessoais, familiares, dos companheiros e do partido. Impensável deixar esta operação aos “inimigos”, por bem ou por mal.
Em qualquer das hipóteses, o futuro é grave e repercutirá na Economia, na Democracia e, portanto, nas futuras gerações. Atingirá, de qualquer modo e em qualquer hipótese, o DNA da nacionalidade.
Que bom se esta perspectiva delicada e perigosa for também equivocada. Do mesmo modo que Lula prometia em suas campanha antes de 2002 fazer muitas coisas assustadoras na economia e espetaculares na arte de governar com ética, e fez ambas ao contrario quando chegou ao governo, não é demais sonhar que também possa fazer o contrário na viagem de volta para a oposição, ou para casa. Mas, na aparência, 2010 será o ano que não vai terminar assim, como quem quer ser mais um ano normal.
Boa análise sobre os inevitáveis retrocessos que a nação pode experimentar se perpeturar esse disfarce de democracia, falsas conquistas e egos enlouquecidos.