Ainda vai levar um tempo até o governador Fernando Pimentel se livrar do arranhão que a Medalha da Inconfidência concedida ao chefe do MST, João Pedro Stédile, causou em sua imagem. A depender do ânimo de um grupo de empresários mineiros — entre os quais, inclusive, há gente que viu com simpatia a chegada do PT ao poder em Minas Gerais — pode ser que isso jamais aconteça. O fato é que, passadas três semanas daquele 21 de abril que continua a dar o que falar, o próprio governo parece ter se dado conta, embora não confesse, de que a ideia de provocar a oposição outorgando a mais alta condecoração do estado a um cidadão com a folha corrida de Stédile foi um tiro no próprio pé.
[su_quote]Em tempo de crise política, ensina a sabedoria mineira, não é aconselhável querer apagar o fogo com gasolina[/su_quote]
Tanto assim que, dias atrás, Pimentel chamou algumas das mais expressivas lideranças empresariais do estado para uma conversa reservada. Os convidados não levaram fotógrafos e a assessoria do governador não distribuiu imagens do encontro. Isso deixou os empresários com a sensação de que o governador preferiu evitar registros de uma reunião que começou e terminou sem que a intenção do convite ficasse clara. “O governador mostrou simpatia e otimismo”, disse um dos empresários a um amigo. “Agiu com se quisesse acenar uma bandeira branca”.
Joaquim Silvério
A bandeira branca pode até satisfazer alguns dos empresários. O fato é que por a medalha no peito de Stédile foi mais ou menos como incluir o nome do traidor Joaquim Silvério dos Reis entre os heróis da Inconfidência. Pelo interior afora, sobretudo nas regiões em que o MST já mostrou até onde é capaz de chegar, muitos dos que apoiaram o PT nas eleições do ano passado encontraram no dia 21 de abril a desculpa de que precisavam para retirar o apoio ao governo.
Provocações como essa são usuais no repertório de um partido que a cada dia mais se torna vítima do próprio discurso. E isso não se resume a Minas. Na quinta-feira passada em Brasília, a Comissão de Direitos Humanos do Senado abriu as portas para um arruaceiro venezuelano chamado Tarek Willian Saab. O convite, feito pelo petista Lindbergh Farias, teve como objetivo se contrapor aos efeitos da visita à casa, dois dias antes, de Lilian Tintori e Mitzy Capriles, mulheres de líderes oposicionistas da Venezuela, mantidos no cárcere pela ditadura bolivariana de Nicolas Maduro. Saab, que é chefe das milícias financiadas com dinheiro público que agridem a sociedade de seu país em defesa do governo (mais ou menos como o MST faz no Brasil), ofendeu os senadores brasileiros, a quem chamou de “covardes” e “antidemocráticos” por terem aprovado um voto de censura às prisões políticas feitas pelo governo de Caracas.
Mais de 4,5%
Seria aconselhável que o PT, neste momento de queda de popularidade, evitasse provocações baratas como a medalha a Stédile e o convite a Saab. A sociedade, agora, está preocupada com a inflação, que em quatro meses já ultrapassou a meta de 4,5% estabelecida para todo o ano de 2015, e com o desemprego — e o som das panelas diz que, a cada dia, fica mais difícil para o PT culpar o governo FHC pelos males do país. Em tempo de crise política, ensina a sabedoria mineira, não é aconselhável querer apagar o fogo com gasolina. A menos, é claro, que a aposta seja o incêndio.
Fonte: Hoje em dia, 10/05/2015.
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