O filósofo Adam Smith, conhecido por traçar as bases da economia moderna com a publicação de sua Riqueza das Nações, nasceu na pequena e charmosa cidade de Kirkaldy na região do Fife, Escócia, em 1723. Nos 300 anos de seu nascimento, é imperativo celebrar o seu pensamento por diversas razões. Primeiro, por sua preocupação a respeito da importância de o homem viver, efetivamente, uma vida boa, a despeito das dificuldades impostas por sua condição natural ou dura realidade à sua volta. Segundo, por traçar as bases de um novo tipo de governo nascido a partir do impulso deste mesmo homem pela constante busca por melhorias de sua vida e, consequentemente, das condições de existência dos demais semelhantes ao seu redor. Governo este, que Adam Smith propõe que surja de uma ação transformadora e que tenha, ainda, todas as condições de prover felicidade e bem-estar comum, afastado do uso da força, das prerrogativas reais, dos valores religiosos ou dos interesses pessoais tão comuns à sua época. Ou ainda, por defender a liberdade, o uso da faculdade mental e trabalho do homem como ferramentas de construção de riqueza, transferindo unicamente ao indivíduo o principal papel de motor de transformação das sociedades.
É neste contexto que o aniversariante se posiciona com quase três séculos de antecedência, em sua Teoria dos Sentimentos Morais, como alguém absolutamente preocupado com temas centrais para o mundo contemporâneo como a heterogeneidade, a questão do egoísmo dos homens, a justiça, a benevolência e, não menos central em suas obras, o valor da virtude e a realidade da corrupção. O que chama a atenção em seus escritos é a relação supostamente existente entre o mercado e a moralidade, especialmente quanto à defesa da geração de riquezas advinda da liberdade sob os seus mais diversos pontos de vista. Curiosamente para Adam Smith, a sociedade comercial que se avistava nos meados do século XVIII trazia em si condições únicas para o desenvolvimento da virtude bem como, de todos os vícios presentes na natureza humana.
É de se imaginar, portanto, na atualidade das economias do século XXI que o pensamento de Adam Smith se encontre mais presente nos países onde a prosperidade econômica e o enriquecimento dos cidadãos convivam com maior grau de liberdade para agir, pensar e empreender bem como, sob o manto da justiça. Mas isto não exclui, na atualidade, a existência da obtenção de riqueza como resultado de comportamentos imorais ou mesmo antiéticos. Muito menos, o fato do homem contemporâneo se ver forçado, ainda, a conviver com a ansiedade e o medo face à enormidade de escolhas e valores que, certamente, Adam Smith não ousara pensar em seu tempo.
A obra de Adam Smith se mostra atual ao permitir uma reflexão a respeito da importância do desenvolvimento de capacidades técnicas, habilidades e virtudes imprescindíveis para a promoção do que, atualmente, se denomina ‘crescimento econômico sustentado de longo prazo’ nas nações. Ao ultrapassar ainda as questões de caráter moral ou, mesmo, os valores presentes nos discursos éticos e humanistas, o filósofo cuidadosamente desenha e estrutura uma crítica, a partir de uma intensa defesa da liberdade, vista como essencial para os regimes econômicos hoje ditos liberais, de forma a poder enfrentar todos os custos morais presentes no capitalismo. É importante destacar que não existiria neste argumento um trade-off entre moralidade e enriquecimento. Pelo contrário, o que está efetivamente implícito, é um debate aberto a respeito da defesa do capitalismo criado a partir do ímpeto dos homens, e para os homens, e a despeito de todas as suas adversidades e defeitos. Não cabe, portanto, o lugar comum da defesa da liberdade, do empreendedorismo, do livre arbítrio e dos demais valores inerentes a tal realidade se tudo implicar na quebra de um princípio civilizatório. Mantem-se assim atual em Adam Smith a busca pelos ganhos de eficiência e produtividade das economias cujos modelos econômicos estejam baseados na liberdade de empreender e na abertura dos mercados, exemplos de geração de riqueza e bem-estar de forma mais efetiva e duradoura a seus cidadãos. Fica, portanto, uma lição às economias que convivem com enormes desigualdades e pobreza, num mundo repleto de tentações mercadologicamente criadas para o atendimento de desejos e necessidades: que o difícil equilíbrio entre os valores morais e a plena liberdade dos mercados não pode servir de crítica o capitalismo de mercado. Deve-se, outrossim, capacitar técnica e intelectualmente a sua mão de obra, incentivar a liberdade de investimento, abrir prontamente os mercados e garantir aos mesmos plena habilidade de competir a partir de suas vantagens competitiva e comparativa. Como deixa claro Adam Smith ‘…nenhuma nação jamais prosperará sem uma perfeita liberdade e uma perfeita justiça.’