O estágio atual de desenvolvimento da economia brasileira e do seu arcabouço institucional é bastante eficiente em trazer desenvolvimento às regiões que estão hoje em um padrão de renda baixo ou baixo-médio, e possui grande dificuldade em gerar desenvolvimento consistente a regiões que já atingiram o padrão médio ou médio-alto de renda.
Essa é uma das explicações para o crescimento maior de regiões como o Centro-Oeste e o Nordeste brasileiro nas últimas duas décadas, e uma relativa estagnação das regiões Sudeste e Sul. Ao contrário do que o senso comum pode sugerir em alguns momentos, ao buscar explicações simplistas do tipo “as políticas e os recursos federais se destinam com maior proporção às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, a grande causa dessa diferença é o grau de complexidade que é exigido por parte de regiões industriais e pós-industriais competitivas, localizadas principalmente no Sudeste e Sul, para que possam construir diferenciais em relação a outras regiões produtivas do mundo, suas competidoras.
Isso tudo por que, obviamente, em um país com a extensão do Brasil, não existem regiões homogêneas, e sim “icebergs” de desenvolvimento com nível de renda média e média-alta, conectados à economia global, e que dependem de alta produtividade na indústria, agronegócio, ou serviços para que possam manter sua qualidade de vida no futuro. Esses “icebergs”, tradicionalmente localizados no Sudeste e Sul, têm se expandido pontualmente para as demais regiões.
Enquanto que o modelo para a continuidade do desenvolvimento, principalmente industrial das regiões Centro-Oeste e Nordeste é mais simples, por tratar-se da implementação tardia do mesmo modelo que se consolidou no Sudeste (São Paulo, principalmente) brasileiro com algumas ilhas na região Sul no período 1960-1980, com muita migração de empresas dessas regiões e um grau de agregação de valor de nível médio. Já para as regiões industriais e pós-industriais de renda média do País tenham maior impulso, é preciso maior atenção à infraestrutura, logística, recursos humanos qualificados, marketing de região e à governança das cidades que as sediam. Isso sem falar na contenção do processo de desindustrialização que temos sofrido.
Em um Brasil moderno, os “icebergs” de desenvolvimento, nossas regiões competitivas, têm um papel fundamental de vanguarda, assim como os territórios de padrão “renda-baixa” e “média-baixa’ que têm melhorado o seu padrão, em boa parte graças às injeções de produtividade e transferências puxadas pelas regiões competitivas.
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