Ainda tem causado barulho o relatório da fundação Oxfam International do início do ano, segundo o qual as 85 pessoas mais ricas do mundo teriam “riqueza” igual à das 3,5 bilhões mais pobres (cerca de US$ 2 trilhões).
Consultando diretamente a fonte dessas estatísticas – um estudo do Credit Suisse sobre a “riqueza” global (https://publications.credit-suisse.com/), vê-se que o total possuído pelos 3,5 bilhões da base da pirâmide mundial de riqueza é de cerca de US$ 7,6 trilhões, quase o quádruplo do número usado para igualar com os 85 maiores bilionários. O patrimônio total de todos os 1.646 bilionários do mundo, segundo a Forbes, é US$ 6,4 trilhões. Pelos dados do Credit Suisse, o menor número possível de pessoas mais ricas para se chegar a essa igualdade é de cerca de 2.200. O número real estaria situado entre 2.200 e 3.400. Mas mesmo 2.200 é bem diferente de 85.
Não é só. A metodologia usada para mensuração da riqueza de indivíduos é questionável. Aparentemente é a mesma para ricos e pobres: bens e direitos menos as dívidas. Ocorre que pelo lado dos bilionários, o principal ativo é consiste nas ações que eles detêm em suas empresas. O valor destas, por sua vez, reflete os rendimentos futuros que seus titulares receberão ao longo da vida.
Isso não acontece com quem tem o salário como principal fonte de renda. Pelo critério estritamente patrimonial, se a pessoa tem um salário de R$ 800, e recebe um aumento para R$ 3.200, mas continua gastando-o todo, sua “riqueza” continua a mesma – apesar de ter quatro vezes mais renda, que pode usar para melhorar sua qualidade de vida com bens e serviços adicionais e de melhor qualidade. Ou seja: se medíssemos a riqueza da “metade pobre” da população mundial por um critério que leve em conta esse ativo, os números seriam ainda mais diferentes.
Contudo, o principal argumento contra o alarmismo com que muitos recebem a “notícia” dos 85 em comparação com os 3,5 bilhões não se baseia nem em uma consulta mais cuidadosa da fonte dos dados, nem da adoção da noção de finanças na mensuração de riqueza pessoal. Vamos esquecer por um momento essas considerações técnicas e ficar com os tais 85 da Oxfam. E peço ao leitor que imagine a seguinte hipótese: você pode apertar um botão que duplica o patrimônio dos 3,5 bilhões da base da pirâmide, mas triplica o dos 85 do topo.
A pergunta crucial é: você apertaria esse botão? Mesmo que, com isso, agora apenas 42 pessoas teriam patrimônio igual ao de 3,5 bilhões?
A resposta positiva mostra que a diferença de riqueza em si, isolada de outros fatores, não é tão relevante, e que qualquer pessoa que se preocupa com as outras optaria por um cenário mais “desigual” em que a condição absoluta das mais pobres melhorou em relação ao anterior.
O Índice de Liberdade Econômica da Fundação Heritage mostra que as nações com maior liberdade econômica são as que mais rapidamente superam a pobreza, e em que os mais pobres são mais ricos.
É a liberdade para empreender, aliada a um sistema que garanta o respeito dos direitos, que permite o melhor aproveitamento da capacidade criativa do indivíduo, responsável pela geração de novas riquezas, que independentemente da proporção, beneficiam todos os que participam do processo.
Aproveite que você apertou o botão multiplicador da riqueza e lembre-se dele ao discutir políticas que privilegiem a geração de riqueza versus a distribuição daquela já criada. E pense em quem propõe coisas equivalentes a não o apertar: são aquelas pessoas que se preocupam mais com o iate do rico do que com o esgoto a céu aberto do pobre.
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