Você se importa com a origem da madeira utilizada para produzir papel, móveis e outros produtos de necessidade diária? Se preocupa com o impacto ambiental causado pela extração das árvores? Imagine se existisse um eucalipto capaz de produzir 20% mais madeira e se as florestas desse eucalipto superprodutivo ajudassem a resgatar 12% mais carbono, reduzisse a emissão de CO² usado no transporte da madeira e ajudasse a fixar pequenos produtores no campo.
Todos esses benefícios são reais e estão relacionados ao desenvolvimento do eucalipto transgênico criado pela FuturaGene, empresa de biotecnologia que pertence a Suzano Papel e Celulose. Para entender a relação entre tecnologia, produção agrícola e seus impactos sociais, o Instituto Millenium conversou com Eugênio César Ulian, vice- presidente de assuntos regulatórios da FuturaGene.
Graduado em agronomia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp- SP), mestre e doutor em fisiologia vegetal pela Texas A&M University, Ulian também fala sobre o funcionamento da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e sobre a resistência aos produtos transgênicos. “Existem preocupações que são pertinentes. O consumidor tem o direito de entender e aprender sobre o tema para que se sinta confortável. A avaliação da CTNBio é um carimbo que indica para o cidadão que ele pode se sentir tranquilo para utilizar esse tipo de produto”, esclarece.
Leia a entrevista:
Imil: Qual a importância dos investimentos em biotecnologia para o aumento da competitividade da economia brasileira?
Eugênio César Ulian: Todo tipo de inovação, isto é, todo tipo de nova tecnologia é importante para o país. O Brasil é um país com um histórico de tecnologias importadas. As biotecnologias que estão disponíveis na área agrícola foram desenvolvidas no exterior e estão ajudando o agricultor brasileiro na obtenção de melhores resultados. A tecnologia do eucalipto transgênico, que pretendemos liberar em um futuro próximo, foi desenvolvida no Brasil. Esse é um grande diferencial em termos de biotecnologia agrícola.
Imil: Dentro dessa perspectiva, qual é a contribuição da tecnologia para a agricultura? Como se dá a relação entre pesquisa e produção agrícola?
Ulian: As tecnologias que estão disponíveis na agricultura tem o aumento da produção como um resultado paralelo. Elas foram desenvolvidas para a tolerância a herbicidas e controle de pragas. O ganho de produtividade é um benefício secundário. Por exemplo, se uma cultura de milho torna-se resistente aos insetos, com o uso da biotecnologia evitamos a perda de produção causada pela praga.
No caso do eucalipto transgênico, criamos uma tecnologia que proporciona um aumento de 20% de produtividade por área plantada. Então, temos um impacto direto na produtividade.
Imil: Como isso acontece?
Ulian: Nós trabalhamos com um eucalipto geneticamente modificado. No eucalipto convencional, cruzamos diferentes espécies e selecionamos variedades que tenham melhor produtividade. No eucalipto geneticamente modificado, selecionamos bons clones e adicionamos um gene a mais nele, que contém uma proteína que atua na formação da parede celular da planta. A parede celular da planta é o que origina a madeira usada na produção de celulose, na indústria moveleira, para produzir carvão etc. Os eucaliptos que recebem esse gene produzem mais parede celular e, consequentemente, mais madeira.
Imil: Além dos ganhos em produtividade, quais são os impactos dessa tecnologia para a sociedade e para o meio ambiente?
Ulian: O eucalipto transgênico é desenvolvido pela FuturaGene, que pertence a Suzano Papel e Celulose. A Suzano tem o programa de fomentados, direcionado aos pequenos produtores que têm propriedades em torno das áreas de plantação de eucalipto. A empresa faz contratos de fornecimento de diferentes espécies de eucalipto para esses pequenos produtores. E o eucalipto geneticamente modificado também será disponibilizado para os produtores.
Em relação ao meio ambiente, o primeiro benefício é o aumento do sequestro de carbono dessas florestas. Isso é muito importante para evitar os problemas relacionados ao aquecimento global. Outro fator importante do ponto de vista ambiental é que o aumento de 20% da produtividade permite que as plantações de eucalipto fiquem mais próximas das fábricas. Isso gera uma diminuição do transporte, reduz o uso de combustível e a liberação de carbono na atmosfera. Além disso, as áreas mais afastadas serão liberadas e poderão ser utilizadas para a conservação.
Imil: Qual é o papel da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)?
Ulian: A CTNBio foi criada pelo governo brasileiro através da Lei de Biossegurança. Ela faz parte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e sua função é avaliar a segurança de produtos geneticamente modificados. Ela é um colegiado formado por 27 membros titulares e 27 membros suplentes, todos com doutorado e diferentes tipos de especialidades. Diversos grupos da sociedade estão representados na CTNBio.
Imil: Ainda existe uma visão estereotipada dos transgênicos. Que problemas isso representa?
Ulian: Existem preocupações que são pertinentes. O cidadão tem o direito de entender e aprender sobre o tema para que ele se sinta confortável para consumir esse tipo de produto, seja na alimentação ou, como no caso do eucalipto, no papel, na celulose e na madeira. O Brasil está na frente de outros países nesses assuntos. A avaliação da CTNBio é um carimbo que indica que o cidadão pode se sentir tranquilo para utilizar esse tipo de produto. Existe um movimento contra os transgênicos, que eu acho que não representa a sociedade. Entendemos que a maior parte dessas manifestações não tem nenhum fundamento técnico-científico.
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