Um empresário com presença relevante no ramo do reflorestamento na região central de Minas Gerais mostrava-se aliviado, na semana passada, com uma decisão que, de forma particular, marcou o fim da crise de seu negócio. Explica-se: no tempo em que o mercado brasileiro crescia ao ritmo da alta dos preços das commodities, ele espalhou plantações de eucalipto pelo cerrado. A floresta produziria matéria-prima para o carvão, que alimentaria as grandes siderúrgicas.
[su_quote]A cada dia, mais e mais empresas desistem de lutar pela sobrevivência e a consequência inevitável dessa decisão é o fechamento de um número cada vez maior de postos de trabalho[/su_quote]
Por um bom tempo, o negócio prosperou, rendeu lucros generosos, mas também gerou centenas de empregos. Afinal, esse empresário — a exemplo de dezenas de outros vizinhos —, só pensava em ampliar a área plantada. Até que a economia desacelerou, a demanda pelo carvão caiu e ele se viu obrigado a colocar o pé no freio.
Para continuar no negócio, ele enxugou a empresa e, assim, conseguiu suportar a baixa do preço da mercadoria aliada ao cancelamento das encomendas por parte dos clientes mais tradicionais. Com a atividade em marcha lenta, ele se deu conta de que a receita era insuficiente para cobrir os custos e tomou a decisão de demitir os últimos 20 empregados que trabalhavam no manejo da floresta e na produção de carvão.
Para ele, que não terá mais a necessidade de arcar com os custos de um negócio que vinha definhando e que pode esperar que a situação melhore para retomar a produção, a crise, de fato, chegou ao fim. Pode ser. Mas, para os trabalhadores que perderam emprego, ela apenas começou.
Por todo o país, exemplos como esse vão se acumulando e dando sinais de que a crise, que já havia sido sentida pela tal “elite branca” (que na versão petista é a responsável pelos males do país) agora começa a chegar à base da pirâmide — ou seja, naqueles que teoricamente votaram em Dilma Rousseff para presidente. Sim. A cada dia, mais e mais empresas desistem de lutar pela sobrevivência e a consequência inevitável dessa decisão é o fechamento de um número cada vez maior de postos de trabalho.
Na semana passada, um informe da RC Consultores, do economista Paulo Rabello de Castro, dava conta de que o aumento dos juros, bem como a redução do percentual de financiamento da casa própria de 90% para 80% do valor do imóvel, devem provocar um impacto negativo em toda a cadeia da construção civil.
“O setor da construção civil tem um ciclo produtivo longo, cuja atividade se irradia na economia, influenciando prestadores de serviço, fornecedores de insumos e, especialmente, o emprego e a formação de capital”, diz o relatório.
Essa é a triste realidade. A crise, está chegando ao emprego e eliminando aquela que foi a base da economia brasileira desde a crise de 2009 (que, para o ex-presidente Lula, não passava de uma “marolinha”). Essa base era o estímulo ao consumo baseado no aquecimento do mercado de trabalho de baixa renda e na oferta de crédito. Daqui por diante, a situação vai piorar. E o governo já não terá mais a quem culpar — a menos que reconheça seus próprios erros.
Fonte: Hoje em Dia, 19/04/2015.
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