País é ultrapassado por China e Coreia do Sul. Educação faz a diferença
Não é apenas na indústria que o Brasil viu sua competitividade ficar para trás nos últimos anos. Levantamento feito pelo Ibre/FGV mostra que chineses e coreanos ultrapassaram o Brasil no ranking de produtividade do setor de serviços. Na década de 1980, a eficiência da China equivalia a apenas 11% da brasileira no setor. Agora os chineses — que já têm nos serviços a maior fatia de sua economia — superam levemente o Brasil, ao gerar por ano uma riqueza de US$ 17.309,15 por trabalhador.
Em relação à Coreia do Sul, com quem estávamos praticamente empatados na década de 1980, houve um claro descolamento e, hoje, o Brasil detém apenas 38% da produtividade deles no setor, que abrange segmentos tão diversos quanto comércio, serviços pessoais, intermediação financeira, transportes e serviços públicos. Os coreanos superam os brasileiros em termos de qualificação em todos eles, com exceção dos serviços financeiros. Em relação aos Estados Unidos, onde a qualificação média é preponderante, mas ainda maior que a de brasileiros, a diferença é ainda maior, ao ponto de um trabalhador americano do setor de serviços gerar por ano o equivalente ao que cinco trabalhadores brasileiros produzem.
— A China está fazendo a mudança de um modelo baseado na indústria e no investimento para outro modelo, fundamentado nos serviços e no consumo. Os dados indicam que eles têm feito progresso no sentido de elevar a produtividade dos serviços e ultrapassam a produtividade brasileira — afirma o economista Fernando Veloso, do Ibre/FGV, um dos autores do estudo em conjunto com Silvia Matos e Bernardo Coelho.
Falta integrar com a indústria
Ao contrário da indústria — em que a importação de uma máquina pode substituir um trabalhador —, no setor de serviços a educação é muito importante. A única área em que os brasileiros têm maior qualificação que os coreanos é na intermediação financeira. Os chineses têm uma maior parcela de trabalhadores com qualificação média (53,8%) que os brasileiros (43,7%). Agora, no entanto, esse período de bonança acabou e o setor vive uma redução do ritmo de melhora da sua produtividade.
O setor de serviços no Brasil também se coordena mal com a indústria e perde oportunidades de se expandir. Segundo o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Arbache, o tamanho do setor de serviços hoje no Brasil — que corresponde a cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e 62,7% do emprego — indica mais uma anomalia que um avanço rumo ao status dos países mais desenvolvidos. A resposta, diz Arbache, é que ao contrário de países como EUA e China, e mesmo Suécia e Canadá, aqui optou-se por privilegiar serviços menos sofisticados prestados a famílias, como hospedagem e alimentação.
— A China até pouco tempo atrás se posicionava como a fábrica do mundo. Os Estados Unidos bolavam, e eles faziam. Os chineses claramente entenderam que não iriam adiante se não agregassem valor ao que faziam, com serviços de logística e de eletricidade — afirma Arbache. — Não dá para pensar em avançar em crescimento econômico e em competitividade internacional se o setor de serviços de design, pesquisa e desenvolvimento, marcas e marketing não for entendido como absolutamente crucial — completa.
Investimento ajuda
O setor de serviços no Brasil passou por um longo período de estagnação desde a década de 1980, mas experimentou avanços nos anos 2000. Segundo Veloso, o movimento está associado ao boom do crédito, que impulsionou o setor, associado a reformas microeconômicas, que facilitaram a expansão do setor.
— Agora o cenário que nos favoreceu se esgotou. O crédito não está mais crescendo. São necessárias políticas específicas, uma formação específica e empresas formais — afirma Veloso.
O economista Claudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, vê uma estratégia mais moderna nos serviços como base para a vantagem da China sobre o Brasil.
— Parte da explicação para a China ter nos ultrapassado está na taxa de investimento deles e parte na estratégia de dinamizar a economia para o consumo. É um país que, com todos os problemas de falta de liberdade política, tem mais competência governamental — disse.
Para o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Luiz Augusto de Castro Neves, o crescimento da economia chinesa baseado em investimentos e exportações faz com que aquele país tenha uma preocupação constante em ser competitivo.
— Com o esforço exportador, existe esse desafio externo de ser competitivo, mas nos últimos anos a mão de obra está ficando mais cara e já há empresas saindo atrás de pessoal mais barato na China rural ou em outros países da região, como o Vietnã — afirma Castro Neves.
Fonte: O Globo
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