Rio – “Purificar e Destruir” é o livro que estou lendo e recomendo para entender algumas sombras que perigam anoitecer nossos dias. Nele, o estudioso francês Jacques Sémelin analisa os processos políticos e culturais que levaram a humanidade a vivenciar massacres e genocídios.
Ele exemplifica seu estudo debruçando-se sobre a tragédia do Holocausto nazista contra os judeus, a limpeza étnica na antiga Iugoslávia com o massacre de mulçumanos e o horror do genocídio dos tutsis, pelos hutus, em Ruanda. O espaço é pequeno para uma resenha do livro e principalmente para estabelecer relação com nossa vida aqui e agora. Mas algumas ideias são possíveis.
O eixo central dos processos de construção das ações criminosas pelo Estado e cumpliciadas pela população vem da constituição do ódio ao outro, definido como causa das mazelas e perigo para o futuro do “nós”. Sim, pois na base da criação da necessidade de aniquilamento está a afirmação de que há um “nós” e, consequentemente, um “eles”.
Esse processo se dá de forma lenta, cotidiana e concorrem para ele ações no campo da política, da cultura e da religião. Leis que separam e restringem os homens por sua ascendência ou cor, exacerbação de sentimentos nacionalistas e crenças religiosas usadas para a segregação são os caminhos para semear o infortúnio e transformar o medo em ódio.
Separar e segregar homens e mulheres por cor, nacionalidade ou origem histórica é abjeto. As pessoas devem se afirmar pela cidadania que os iguala e lutar pela democratização do acesso e não serem chamadas e se definir, e se distinguir, por qualquer especificidade ou opção.
Hoje, em algumas universidades o cidadão deve se dizer preto ou branco, para ter facilidades para o ingresso. Dizer-se de uma raça é se perceber diferente. É o primeiro passo para que exista um “nós” e um “eles”.
Putz, deve ser duro estudar numa Universidade que não sabe se um sujeito é preto ou branco. Provavelmente, não sabem o que é um negro pq só viram um na televisão.