Relatório produzido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) “In It Together: Why Less InequalityBenefits All”(”Nisso Juntos: Por que menos desigualdade beneficia a todos”), lançado nesta quinta-feira, aponta um cenário de desigualdade crescente nos países desenvolvidos.
Mudanças profundas nos mercados de trabalho a partir da globalização e das mudanças tecnológicas e reformas regulatórias estão por detrás disso, com impacto sobre a renda das famílias, segundo a organização. No grupo de países que compõem o grupo, os 10% mais ricos ganhavam 9,6 vezes mais que os 10% mais pobres em 2013. Na década de 80, essa distância era de sete vezes para os ricos. Na década de 90, pulou para oito vezes, e nos anos 2000, para nove vezes.
Segundo o documento, desde meados dos anos 80 até 2013, houve alta do coeficiente de Gini (indicador que mede a concentração de renda: quanto mais perto de 0, melhor) em 17 dos 22 países. Em quatro, houve apenas uma ligeira mudança: Bélgica, Holanda, França e Grécia. O único país a ter queda de desigualdade no período foi a Turquia. O coeficiente de Gini ficou em 0,32 na média dos países da OCDE, em 2013. Nos Estados Unidos e na Turquia, chegou a 0,4 e se aproxima de 0,5 no Chile e no México. Na década de 80, era de 0,29.
Em várias economias emergentes, sobretudo na América Latina, a desigualdade de renda foi reduzida, mas o patamar das desigualdades se mantém entre as maiores economias do grupo de países. O Brasil e o programa Bolsa Família são citados como exemplo de redução da desigualdade.
Segundo o relatório, em média, os lares dos 10% mais ricos detêm a metade da riqueza total, enquanto os 40% mais pobres detêm pouco mais de 3%. Segundo a OCDE, o principal problema para o crescimento econômico é que elevados níveis de endividamento podem afetar a capacidade da classe média baixa de realizar investimentos em educação e formação.
Durante a crise econômica de 2008, a desigualdade de renda continuou a avançar devido à queda do emprego, mesmo que a redistribuição, via impostos e transferências, tenha compensado em parte esse movimento. A renda disponível real ficou estagnada ou caiu na maior parte dos países da OCDE entre os anos de 2007 e 2011. Na Grécia, os lares perderam em média mais de 8% de sua renda real líquida por ano. Na Espanha, Irlanda, e Islândia, a média das perdas foi de 3,5%.
Os grupos na base da pirâmide perderam ainda mais em países como a Espanha, onde a renda dos 10% mais pobres caiu quase 13%. Entre os 10% mais ricos, a queda foi bem inferior: 1,5%. Em cerca da metade daqueles países, a renda dos 10% mais ricos foi melhor que a dos 10% mais pobres. Na Áustria, Dinamarca, França e Estados Unidos, a renda do topo cresceu em termos reais enquanto a dos mais pobres caiu.
Nas duas décadas anteriores à crise econômica global, a média da renda disponível real cresceu em média a 1,6% entre os países da OCDE. Com a exceção do Japão, a renda real cresceu tanto no topo quanto na cauda dos ganhos em cada país. Mas em três quartos dos países, a renda dos lares dos 10% mais ricos cresceu num ritmo superior a dos 10% mais pobres, o que levou a ao aumento da desigualdade.
Segundo a entidade, a desigualdade afeta o crescimento econômico ao atingir o chamado capital humano. Enquanto existe sempre uma distância entre a escolarização entre os indivíduos de diferentes backgrounds sócio-econômicos, essa distância se amplifica em países altamente desiguais. Isso resulta em uma grande parcela de potencial desperdiçado e de baixa mobilidade social.
Emprego temporário é risco
O relatório faz um alerta sobre o efeito do emprego temporário e por conta própria no aumento da desigualdade social. Segundo o documento, esse tipo de inserção representa cerca de um terço do total do emprego nos países da OCDE. Desde meados de 90, mais da metade de toda a criação de empregos foi nessa forma. Em muitos países, trabalhadores jovens, em especial aqueles com contratos temporários têm menor chance para se deslocar para um emprego mais estável.
“Muitos trabalhadores não-convencionais estão em situação pior em muitos aspectos de qualidade de emprego, como salários, segurança do emprego e acesso à treinamento. Em particular, trabalhadores temporários de baixa qualificação encaram sanções salariais substanciais, instabilidade de ganhos e crescimento mais lento da renda.”
Avanço das mulheres não freou desigualdade
As mulheres fizeram progresso substancial no mercado de trabalho dos países desenvolvidos e reduziram a distância para os homens em termos de participação e salário. Se a proporção de lares com mulheres que trabalham tivesse permanecido nos níveis dos últimos 25 anos, a desigualdade de renda teria aumentado em quase um ponto acima da média, segundo a OCDE.
O impacto da maior participação de mulheres que trabalham em tempo integral e de salários mais altos para elas representou outro freio de um ponto, segundo a entidade. No entanto, as desvantagens continuam. As mulheres ainda têm 16% menos de chance de estar em um trabalho remunerado e têm salários, em média, 15% inferiores ao dos homens. Esse movimento pôs um freio no crescimento da desigualdade de maneira geral.
O relatório recomenda quatro instrumentos para atacar a desigualdade: remover as barreiras à progressão de mulheres no mercado de trabalho, focar em empregos que ofereçam uma carreira e possibilidade, promover a educação e o potencial de jovens para que eles tenham mais possibilidade no mercado de trabalho e a redistribuição via impostos e transferências.
Nesse caso, o Brasil é citado como exemplo de melhora na melhora das condições de trabalhadores domésticos, “que são predominantemente mulheres” com a aprovação da lei trabalhista para a categoria.
Fonte: O Globo.
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