2015 tem sido explícito. As projeções econômicas na América Latina apontam recessão severa na Venezuela e no Brasil. O governo esquerdista grego flertou com saída radical e populista da crise e acabou aceitando ajuste mais profundo do que rejeitara pouco antes. A China dá sinais de instabilidade e insegurança econômica com volatilidade aguda na Bolsa e crise fiscal nas Províncias após excesso de gastos. O crescimento chinês pode cair nos próximos anos para a faixa de 5%, metade do visto na década passada. Na Rússia, a recessão pode chegar a PIB de -4%.
A situação desses países revela uma enorme reversão da situação poucos anos atrás. Em janeiro de 2012, por exemplo, a “Economist” deu uma capa vermelha com a imagem de Lênin fumando um charuto e a manchete “A ascensão do capitalismo de Estado”.
A revista britânica, baluarte do liberalismo econômico, falava do novo prestígio do dirigismo estatal da economia, que, segundo seus defensores, proveria estabilidade e crescimento sustentável. Não aconteceu.
Nesse período, a Índia fez uma inflexão ao eleger governo pró-mercado e pró-investimento privado e começa, pela primeira vez, a ter projeção de crescimento superior à da China. A Alemanha sustenta crescimento sólido. O Reino Unido dá sinais consistentes de recuperação. E a maior economia mundial, os EUA, gera empregos, consumo e investimento.
Estamos diante de uma inversão dramática de expectativas em escala global. E o Brasil é caso exemplar. O país testou nova matriz econômica baseada em expansão de gastos públicos, juros artificialmente baixos e maior intervenção governamental visando turbinar o crescimento econômico sob a direção de Brasília. Como sabemos, o experimento fracassou completamente, e o governo mudou de rumo.
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O Brasil hoje enfrenta juros básicos de 14,25% –regredindo a patamar da fase inicial da estabilização da economia–, ajuste fiscal e crescimento preocupante de dívidas que pode tirar do país o selo de bom pagador.
Voltamos, portanto, a enfrentar os fantasmas do aumento do risco, da insolvência fiscal, da inflação e da instabilidade que julgávamos parte do passado.
Enquanto isso, países com sólida economia de mercado, liberdade de competição e mercados de capitais fortes concluem ajustes cíclicos (inevitáveis nas trajetórias econômicas) e retomam crescimento sustentável. A presença da Índia neste grupo demonstra que a diferença é a orientação econômica, não o nível de renda.
Vamos aproveitar essas lições. Expandir os gastos é sempre agradável enquanto acontece, mas é necessário combinar com quem paga a conta, principalmente se forem credores que não estão usufruindo diretamente das benesses dos gastos governamentais.
Fonte: Folha de S. Paulo, 2/8/2015
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