As manifestações populares deste domingo foram na medida certa. A voz das ruas foi alta o suficiente para não poder ser ignorada, mas não o bastante para constranger nossas instituições. O que uma classe política insegura mais teme é a inquietação das ruas, mas o que o país precisa é de seu aperfeiçoamento institucional. Seria um desvirtuamento de uma democracia representativa que o barulho das ruas substituísse o julgamento do Poder Judiciário e a avaliação do Poder Legislativo quanto ao impeachment da presidente.
Ao contrário dos gritos e ameaças de sempre, dos movimentos antissociais pela desordem, o que mais impressiona é a verdadeira festa cívica e a natureza pacífica dessas manifestações. Os chefetes de bandos organizados em centenas de militantes devem prestar atenção a essa massa silenciosa de milhões. O MST e a CUT confrontariam o Exército brasileiro em desafio à ordem constitucional? Ou desafiariam milhões de manifestantes para que também se armassem para o confronto nas ruas? Não sei o que é maior na cabeça de quem pensa assim: a imbecilidade ou a irresponsabilidade.
[su_quote]A voz das ruas foi alta o suficiente para não poder ser ignorada, mas não o bastante para constranger nosso aperfeiçoamento institucional[/su_quote]
Não se engane o governo com a trégua obtida pela reaproximação com o presidente do Senado e o pacifismo das manifestações. Pois estarão conosco ainda por bom tempo o desafio econômico da estagflação e o desafio político da corrupção. O baixo crescimento, a corrupção sistêmica e o mais longo programa de combate à inflação da História são filhos bastardos da ininterrupta escalada dos gastos públicos. A falta de compromisso com o controle dos gastos tornou-se o calcanhar de aquiles de todos os nossos esforços anti-inflacionários.
Sem a confiança na capacidade de promover o ajuste fiscal, mais uma vez os juros do Banco Central são o único instrumento para tentar frear a escalada inflacionária. E, como Tombini falou fino no primeiro mandato de Dilma, teve de compensar sua perda de credibilidade falando bem mais grosso agora. O que trouxe juros bem mais altos e uma taxa de sacrifício maior em queda de produção e perda de empregos do que teria sido necessária para a reversão de expectativas inflacionárias adversas. E o mais trágico é que se cogite agora recorrer a uma arma de destruição em massa dos empregos: a elevação de encargos sociais e trabalhistas.
Fonte: O Globo, 17/8/2015
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