No meu modesto pensar, o núcleo da crise em que vivemos é de natureza ética, moral. A política e a economia são apenas sintomas de um comportamento generalizado que os governos lulopetistas levaram às últimas consequências. São expressões do tipo “Quando eu cheguei, já estava assim…” ou “Mas sempre foi assim…” e ainda “No final tudo dá certo…”, acompanhadas da inefável explicação de que “Deus é brasileiro”. É a cultura do “jeitinho”, da “carregação”, da “tapeação” e das coisas feitas a meia-boca . Tudo isso para tentar enganar os outros e principalmente a nós mesmos. Nos recusamos a reconhecer a nossa incompetência, a nossa mediocridade, a nossa preguiça atávica respondendo com a malemolência do mulato inzoneiro. Não passamos de um bando de jecas-tatus acocorados pitando um cigarrinho de palha – “Qual dotô, se miorar estraga…” ou, pior, “Eu só me acerto é com o governo…”. Não poderia mesmo dar certo, era só uma questão de tempo.
Esse estilo Macunaíma de viver se esgarçou, não funciona mais. Deu ruim.
Nos recusamos a reconhecer as nossas limitações, que são muitas. Achamos tudo que é brasileiro sensacional e exuberante. Bobagem. Somos muito autocomplacentes, esperando que os outros também o sejam conosco. Nos transformamos num povo cínico, que não fica indignado com nada, nem quando é maltratado, roubado e espoliado pelos seus concidadãos. Apenas lamentamos não participar das boquinhas e negociatas.
[su_quote]Somos muito autocomplacentes, esperando que os outros também o sejam conosco[/su_quote]
Não é de espantar que, cada vez mais, grandes segmentos da população vão procurar no obscurantismo da fé as referências morais que não encontram na sociedade. Aí temos um terreno fértil para fundamentalismos moralistas e preconceituosos, inclusive nas seitas pentecostais, cuja estrutura teológica é quase nenhuma. Basta ver a densidade intelectual de suas lideranças, cuja grande vocação na realidade são as finanças.
Bem, pelo menos um fato podemos comemorar: os black blocks foram derrotados.
Mas existe um caldo de beligerância fermentando nos subterrâneos da Nação e nas ditas redes sociais. Cultiva-se um antagonismo irreconciliável jamais visto na história republicana. E essa obra tem dono, mestre e contramestre. Sim, ele, sempre ele, o senhor Lula.
Hoje o país se encontra à deriva, encurralado. Não temos sequer as escolhas e possibilidades de uma encruzilhada. Os políticos de oposição sabem que assumir o poder agora é comprar o mico-preto. E pior, com o PT e Lula fora do governo, jogando pedras na vidraça. Para a oposição, a alternativa será deixar este governo se arrastar sangrando até 2018. Será que eles não entendem que a população não aguenta esse tipo de proposta? O desemprego, a fala de investimentos, a precariedade dos serviços, tudo isso só vai piorar.
E então? Como é que fica? Para onde vamos? O que dizer para o povo no dia 16 de agosto?
Honestamente, não tenho a menor ideia.
E tenho dito.
Fonte: Veja, 4/8/2015
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