Economista da MB Associados, Sérgio Vale disse, em entrevista a “O Globo”, que puxar a reforma pela receita deve ser “a última cartada” do governo da presidente Dilma Rousseff, que passa por dificuldades, tanto políticas quanto econômicas, para colocar em prática o ajuste fiscal. Segundo ele, o verdadeiro ajuste deve ser feito através do corte do gasto público.
O Globo: Caso o governo não consiga aumentar as receitas com a volta da CPMF, as contas da equipe econômica poderão ficar sob suspeita?
Sérgio Vale: A ideia de puxar a reforma pela receita é a última cartada possível de um governo com dificuldade de fazer o ajuste realmente verdadeiro, que é via corte de gasto público. Os estudos mais recentes têm corroborado a visão de que ajuste via receita não funciona e para trazer credibilidade seria necessário um corte mais profundo de gastos, que tende, com resgate da credibilidade, a retomar o crescimento mais rapidamente. Mas isso só acontece em primeiro ano de governo. Em segundo ano de um governo fraco, não tem chance de ocorrer. Com isso, provavelmente tenhamos ano que vem outro superávit primário decepcionante, próximo de zero.
O Globo: Isso pode gerar a perda do grau de investimento? O que pesará mais na análise de risco das agências: o cenário econômico recessivo ou a capacidade de cumprimento de metas fiscais?
Sérgio Vale: Será um conjunto de informações, pois as agências não decidem isso apenas por uma ou duas variáveis. De qualquer maneira, terão nas mãos uma economia com queda de PIB per capita de 6% em três anos (entre 2014 e 2016), dívida pública próxima de 70% do PIB, e situação política frágil. A chance de a Standard & Poor’s ser a primeira a tirar a nota no início do ano que vem é muito alta. Talvez o governo acorde e seja mais agressivo no ajuste fiscal depois disso, entre uma eventual perda do grau de investimento da S&P e a decisão subsequente da Moody’s ou da Fitch.
O Globo: O senhor acredita que o governo terá condições de cumprir as metas de superávit primário propostas para este ano (0,15%), e para o ano que vem (0,7%)?
Sérgio Vale: Não. Este ano está caminhando para algo levemente negativo (-0,1%) e ano que vem não deverá ser muito diferente disso. Teremos novamente uma recessão, com queda de PIB de 1%, e aumento de salário mínimo de 10%, pressionando a Previdência logo no começo do ano. Com o desmantelamento da base de apoio da presidente, será muito difícil aprovar qualquer ajuste mais forte.
O Globo: Com esse cenário de recessão técnica e queda nos investimentos como o governo vai conseguir algum crescimento em 2016?
Sérgio Vale: Acho que chegou num ponto que não há muito o que fazer. O governo está cada vez mais paralisado e enquanto os riscos políticos e a Lava-Jato estiverem presentes, o investimento continuará baixo. Mais ainda, o ajuste no emprego está começando e tem muita piora no número de desempregados pela frente, devendo chegar até o final do ano na casa dos 10%.
O Globo: Com todos esses problemas, o ministro Joaquim Levy terá condições de se manter no cargo?
Sérgio Vale: Não achava que seria capaz desde o ano passado. É um excelente ministro no meio de um governo esfacelado. É como se fosse um ótimo diretor financeiro escolhido para uma empresa em recuperação judicial em que os mesmos diretores e presidente, que levaram a essa situação, permanecessem em seus cargos. Estava claro que ele seria pressionado permanentemente pelo lado ainda muito presente no governo que não entende a necessidade e como fazer um ajuste fiscal realmente mais forte.
Fonte: O Globo, 29/8/2015
Acredito, que um bom analista deviria pensar muito antes de fazer parte da equipe econômica do governo, um bom analista é capaz de prever a queda antes que ela venha e também pode ser capaz de mudar o rumo econômico, acontece que com um governo que não segue as regras a risca não há resultados positivos. O governo tem que cortar o mal pela raiz, fazer a lição de casa e não deixar para depois o que tem que ser resolvido hoje, assim podemos voltar ao rumo de uma economia sólida, ainda que tenha queda de crescimento, ainda que as arrecadações caiam e fechemos no vermelho não tem problema, o principal é fazer a lição de casa corretamente, não tampar o sol com a peneira, punir os corruptos, elevar o nível de educação corrigir todo o sistema, cortar os gastos e investir ainda que seja as migalhas, temos que investir, em educação é claro.