A Operação Lava Jato trouxe à tona a necessidade de empresas terem departamentos estruturados para mitigar riscos relacionados a fraudes e corrupção nos negócios com a administração pública. Isso porque, com a promulgação das leis de prevenção à lavagem de dinheiro (n.º 12.683) e a de combate à corrupção (n.° 12.846), ficou mais claro que companhias podem receber punições rígidas em caso de envolvimento em atos ilícitos.
Nesse cenário, a procura por consultorias especializadas na implementação de áreas de compliance, isto é, departamentos que têm o objetivo de garantir a adesão às normas e regulações, tem crescido no país.
De acordo com a FTI Consulting, empresa americana especializada em compliance, a receita na divisão América Latina cresceu 12,3% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o primeiro, impulsionada, justamente, pelas leis 12.683 e 12.846 e pela deflagração da Operação Lava Jato.
“Na última década, começaram a surgir no Brasil as consultorias que fazem esse tipo de serviço, e todas cresceram muito nos últimos cincos anos”, afirmou Cynthia Catlett, diretora-gerente da FTI na área de Prática de Investigações e Riscos Globais, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
Sócio da área de gestão de riscos da consultoria PwC, Carlos Souza também enxerga um aumento na procura de companhias por serviços de consultoria em compliance, como consequência da entrada em vigor das Leis Anticorrupção e de Lavagem de Dinheiro.
“Houve um aumento na procura de serviços para implementar os controles necessários para estar em compliance com as legislações”, afirma.
De acordo com Leonardo Lopes, sócio da prática de Forensic Services da PwC Brasil, desde o ano passado, a procura tem aumentado muito para serviços de consultoria com o objetivo de implementar os “controles necessários para as empresas estarem em compliance”, além de mapeamentos de riscos de corrupção, dentre outras práticas.
Essa tendência também é observada por José Compagno, sócio líder da área de investigação e fraude da EY no Brasil e América do Sul. “Nos últimos três, quatro anos houve um ‘boom’. É um mercado absolutamente quente”, diz.
Lava Jato
A deflagração da Operação Lava Jato trouxe à tona as consequências de uma empresa se envolver em casos de corrupção e, por conta disso, a necessidade de a companhia estruturar áreas para mitigar riscos de corrupção e fraudes, avalia Leonardo Lopes, da PwC.
“A operação tem permitido um aumento de consciência em empresas sobre onde estão os riscos de corrupção, para que elas possam atuar de forma mais focada nessas questões”, diz Lopes.
Esse aumento de procura, porém, não é restrito a empresas que mantêm diretamente operações com a administração pública, diz o especialista da PwC. “Há empresas que não estão diretamente relacionadas com o setor público, mas que também estão procurando o serviço, assim como empresas familiares. A preocupação é geral, não é de um setor específico.”
Auditoria
As leis de combate à lavagem de dinheiro e Anticorrupção alteram a “linha de corte” de firmas de auditoria para a aceitação – ou não – de clientes, avalia Rogério Garcia, diretor do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). “Essas leis trouxeram pontos específicos sobre compromissos do auditor.” Segundo ele, uma companhia com controles internos deficientes e sem um programa de compliance representa um risco alto para a empresa de auditoria.
Sócio-diretor da área de consultoria de riscos da KPMG no Brasil, Claudio Peixoto avalia ainda que a Lava Jato aumentou o nível de detalhes exigidos por uma auditoria. “É provável que a auditoria seja mais rígida em seus processos de aceitação e continuidade de serviços com empresas envolvidas”, diz.
As legislações, porém, podem “facilitar”, no longo prazo, o trabalho de auditoria, avalia o professor da USP Pierpaolo Bottini. “A empresa terá de criar procedimentos internos que vão digerir uma série de dados e informações que, depois, vão ser usados pela auditoria”, defende.
Fonte: O Estado de S.Paulo.
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