Essa conta não fecha. Pesquisa de “Veja” revela que parlamentares brasileiros se encaixam na definição de “liberais populistas” em sua visão sobre o papel do Estado na economia
O congressista médio brasileiro é, nas palavras do especialista em contas públicas Raul Velloso, um “liberal-populista-clientelista”. O retrato de um Congresso com um pé no campo do pensamento que defende a menor intervenção possível do Estado na vida do cidadão e o outro pé fincado na prática de instrumentalizar esse mesmo Estado para favorecer os interesses de alguns escolhidos surgiu numa pesquisa que VEJA fez com 351 parlamentares entre os últimos dias 3 e 17.
O trabalho, conduzido pelo Departamento de Pesquisa da Editora Abril, propôs-se a delinear, a partir de cinco questões, a visão de deputados e senadores sobre o papel essencial do Estado na economia. Seis em cada dez responderam ao levantamento. A quase totalidade (96%) disse concordar com a premissa do liberalismo clássico, de que o papel essencial do Estado na economia é “garantir a sanidade da moeda e dos contratos”. Mas 72% disseram considerar que cabe ao Estado, sobretudo, “manter o poder de compra dos funcionários públicos” – uma posição que Velloso atribui aos imperativos de uma máquina pública que absorve 75% do orçamento só com pagamento de pessoal e benefícios.
Quase a metade dos congressistas (48%) respondeu que a função principal do Estado é competir com a iniciativa privada para baixar preços, e um em cada três disse considerar que a tarefa mais importante é diminuir a desigualdade social, ainda que isso cause danos às finanças nacionais. É espantoso para um Congresso em que quase 100% dos integrantes dizem rezar pela cartilha liberal? Talvez não. “O parlamentar médio não é a elite do pensamento nacional. Pode ser que ele simplesmente não entenda alguns conceitos. E isso faz com que, em sua visão, o Estado vire esse monstrengo de vários braços que faz tudo”, diz Velloso.
O problema é que essa visão turvada tem reflexos nas contas do país. “Os políticos têm pouco apreço ao custo de oportunidade dos recursos públicos e atuam em favor dos grupos que os patrocinam”, analisa Sérgio Giovanetti Lazzarini, professor da escola de negócios Insper. “Subsídios concedidos não estão atrelados a metas a cumprir nem têm sua eficácia medida por critérios objetivos. Com isso, a economia torna-se cada vez mais ineficiente, e o contribuinte é quem paga a conta.”
Fonte: Veja
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