O Instituto de Estudos Empresariais (IEE) promoveu, na noite desta segunda-feira, 30 de novembro, o 6º Colóquio do Fórum da Liberdade. O evento, realizado no Hotel Sheraton, em Porto Alegre, teve como tema Brasil: um problema cultural?. Com o objetivo de dar continuidade ao debate de ideias gerado no Fórum da Liberdade, o colóquio contou com as palestras de renome nacional de Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho Consultivo da Gerdau; Alberto Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise e autor da consagrada obra “A cabeça do brasileiro”; e Bruno Garschagen, autor de “Pare de acreditar no governo – por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado”, um dos best-sellers do ano. O debate foi mediado pelo presidente do IEE, Ricardo Heller, que destacou que o tema aprofunda o exame sobre a sociedade brasileira e sua relação com o contexto econômico e político atual.
Jorge Gerdau Johannpeter afirmou que é necessária uma reformulação na estrutura do governo, diminuindo o número de ministérios e partidos políticos, além da carga tributária. Atualmente, de acordo com dados do World Economic Forum, o Brasil é o 76º no Ranking de Competitividade. Segundo Gerdau existe uma relação direta entre o crescimento do país e sua poupança. Nos últimos 40 anos, o País teve um crescimento médio de menos de 1% per capita. De 2003 a 2014, a arrecadação cresceu 84% enquanto o PIB aumentou 47%. O palestrante enfatizou que o esforço por mudanças tem que vir da sociedade civil. Para Bruno Garschagen, a culpa pelo que acontece atualmente no Brasil, ao contrário do que muitos se acostumaram a dizer, é do próprio povo brasileiro, e não dos portugueses, da Igreja Católica ou de outros aspectos culturais importantes. “A nossa cultura cria uma mentalidade estatista. A política formal na nossa história pavimentou um caminho para a servidão”, apontou.
De acordo com o palestrante, boa parte das pessoas que se posicionam contra o governo o faz por conta de uma frustração de expectativa, mas a população não deve se isentar de mudar esse panorama. “A culpa é nossa: se não melhorarmos os políticos que governam o Estado, não vamos melhorar como sociedade. Delegamos nossa responsabilidade individual para instituições e governo. É mais confortável, mas vamos ficar permanentemente transferindo um problema que é nosso se não fizermos nossa parte. A vida em sociedade não pode ficar confinada à política”, afirmou Garschagen. Além disso, o palestrante fez uma dura crítica a como o governo tem conduzido a governança brasileira ao longo da história: “O governo faz tudo o que pode para atrapalhar a iniciativa privada. Ele impede a prosperidade e esse freio aumenta o grau de dependência que temos em relação ao Estado. É preciso uma mudança cultural para que a população estabeleça uma nova relação com o poder público”.
Alberto Carlos Almeida levantou alguns pontos importantes para a formação cultural do Brasil, desde sua divisão entre Portugal e Espanha no século XVI. Desse período, o Brasil herdou questões relevantes, como o idioma, a religião e traços subjetivos da população, como o fato de o povo ser alegre e flexível, além de evitar conflitos. Segundo ele, um pouco do jeito brasileiro pode ser explicado pala sua bandeira: “Praticamente todo o hemisfério norte utiliza a cor vermelha em sua bandeira. Nós usamos um padrão mais africano, e a mescla das cores da bandeira do Brasil está presente em apenas 3,6% das outras. A mistura é algo marcante, que faz o país”.
Segundo Almeida, atualmente vivemos no “terreno do imprevisível”. “A agenda política do Brasil foi sequestrada pela Operação Lava-Jato”, sintetizou. O palestrante fez uma reflexão sobre as possibilidades do impeachment da presidente Dilma Rousseff, destacando que as condições atuais não levam a crer que ele venha a ocorrer: “Vivemos em um presidencialismo: é bem diferente do parlamentarismo, porque o presidente é muito protegido, o mandato é fixo e não há perda de confiança política”. Ainda segundo Almeida, a crise política é a grande causadora da atual situação do Brasil, e a solução depende do que ocorre em Brasília, inclusive das medidas que são adotadas pelos deputados eleitos por cada estado. “A lógica da maioria dos deputados é ‘eu fui eleito por determinado interesse. Então vou defender o interesse de quem me colocou aqui, e não a macroeconomia ou os problemas de âmbito nacionais’”, enfatizou.
Fonte: Felipe Vieira, 01/12/2015.
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