À frente do conselho de administração da Suzano, segundo maior indústria de papel e celulose do país, David Feffer, 59 anos, diz que a companhia, fundada por seu avô Leon, vive “um momento muito feliz”. As ações da Suzano, grande exportadora de celulose, valorizaram quase 60% neste ano. Feffer vê pela frente uma nova etapa para a companhia, com base no processo de reestruturação realizado nos últimos três anos. Sobre o futuro do País, ele é mais reticente e prefere não fazer previsões. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.
O cenário econômico adverso pode afetar a companhia?
A Suzano vive um momento muito feliz. Temos de olhar o negócio por uma perspectiva mais longa. Nos últimos dez anos, passou por um grande movimento de expansão, com crescimento sustentável. Nos últimos três, sofreu uma reestruturação. Muito do que se vê hoje são conquistas, principalmente, dos investimentos em inovação. No início deste ano, conseguimos aprovação do eucalipto geneticamente modificado, após um trabalho que começou em 2000 e foi gradativamente construído. Foi suado. Doloroso. Teve até o episódio de invasão (em março, um grupo de mulheres ligado ao MST invadiu a Futuragene, empresa de pesquisa da Suzano, e destruiu mudas do eucalipto transgênicos). Mas essa é uma conquista para o Brasil e para o mundo. Vai modificar a dinâmica da indústria ao longo dos anos.
As crises política e econômica podem inibir os investimentos daqui para frente?
Eu sou sempre otimista. O Brasil não vai acabar. Para se erguer uma fábrica de celulose leva tempo. É preciso ver onde tem a terra, água, pensar em como escoar a produção. É um processo de 10 a 15 anos. Nós estamos acostumados a processos de longo prazo. O Brasil tem um futuro muito promissor. Acho que nossos filhos e netos vão viver num país melhor. Então, o que vemos assusta. É preciso ter coragem para tomar decisões – e a gente toma decisão com um pouquinho de juízo, em cima de um estudo muito bem feito. Nosso pessoal tem feito um trabalho muito bem feito.
Sabemos que o sr. não gosta de falar sobre política e cenário econômico. Mas como vê a questão do impeachment?
Eu sou a favor do Brasil S/A. Sou brasileiro, com filhos e netos brasileiros. O Brasil é um País democrático. Tem de seguir a Constituição. Não sou eu quem tem de achar o que é bom ou ruim. O que eu gostaria é que as decisões fossem democráticas, seguissem as leis e fossem céleres. Incertezas por um longo período de tempo não ajudam.
Para o sr., é indiferente quem governa?
Estava em um almoço (na semana passada), com vários presidentes de multinacionais, alguns amigos, e o papo era o seguinte: Como explico para o gringo essa confusão no Brasil? Tanto faz quem governa. O que eu quero é que o Brasil dê certo. Faço parte desse grupo. Temos de viver com o governo que estiver de plantão. Estamos passando por uma transição. É doloroso, mas estamos melhorando.
Para muitos empresários, o País precisa de um ajuste estrutural e a presidente tem dificuldade de fazê-lo. O sr. concorda?
Acredito que os países que são democráticos, capitalistas e com estruturas liberais têm mais chances de sucesso. A história tem mostrado isso. E o Brasil tem ido nesse rumo.
Qual é a avaliação do sr. em relação ao desempenho do ministro da Fazenda, Joaquim Levy?
Ele está fazendo o melhor que pode. Tem boa fé, competência e trabalha para burro, mas não tem conseguido sucesso. Não é culpa dele: ou a orquestra toca afinada ou a música não sai legal. Às vezes, o Brasil tem épocas boas, às vezes outras piores. Agora, o Brasil está passando por um processo de transição. Mas eu olho lá na frente. Não dá para pensar a agenda olhando este mês. Tem de ter uma estratégia sustentável.
Fonte: Estadão, 14/12/2015
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