“Muito obrigado pelo convite. O orador da vossa classe acaba de falar sobre o desejo nobre de vocês em ajudarem o Brasil. A melhor maneira de ajudar o Brasil é vocês ganharem dinheiro. Para vocês. Sejam curiosos, inovadores, ambiciosos, empreendedores. Pois para cada real que ganharem para vocês, pagarão 20 reais em salários. Quarenta reais em impostos. Vinte reais aos fornecedores. Sete reais em serviços. E vocês precisarão pagar a investidores e financiadores, repor ativos que se desgastarem e investirem em crescimento.
Mas se vocês atenderem o que as pessoas querem, vocês irão ganhar dinheiro. E como ajudarão o Brasil! Criarão milhares de empregos. E não existe programa social melhor que um emprego. O desemprego não é só terrível pela penúria que cria entre os mais pobres. Ele destrói autoestimas, famílias.
O grande gasto de vocês será com impostos. Mas impostos pagam por educação, saúde e infraestrutura e tornam mais plano o campo das oportunidades. Existem formas sofríveis e eficientes de como o governo desembolsa esse dinheiro. Estudem as eficientes e votem nos políticos que as apoiem.
Meus caros formandos. Este é um momento único, a formatura num curso superior. Agora, vocês terão que correr atrás das oportunidades, achá-las. Vocês viveram anos de angústias e sonhos sobre o futuro, mas, creiam-me, vocês são uns privilegiados. E com o privilégio vem responsabilidade. A principal responsabilidade de vocês é ganhar dinheiro. Para vocês. Bom Ano Novo e maravilhosa nova vida.”
Existe enraizada crença de que ambição por dinheiro é algo negativo. Mas o que move o espírito empresarial são desafios, sonhos e este espírito é intuitivo e não, como brincou Keynes, animal.
A professora Mariana Mazzucato, em seu livro “The Entrepreneurial State” (2013), argumenta que lucro não vem da inovação empresarial, mas dos investimentos feitos em pesquisa pelos governos e nos quais empresários têm boca-livre. Hillary Clinton, a senadora Elizabeth Warren e mesmo Obama (discurso “You didn’t built that” — 2012) gostam da baboseira de que, sem os investimentos públicos em educação, pesquisa, saúde e infraestrutura, empresários não poderiam existir. Mas, sem empresários, não existiriam governos. E Mazzucato tem agenda estreita, pois quer provar que o problema fiscal da Europa só se resolve com mais gastos públicos em pesquisa. E para provar, como boa picareta, usa qualquer argumento. Coerência se dispensa.
Discursar que quem cria emprego é governo é estelionato eleitoral e crime previsto nos Dez Mandamentos. E os livros de M. Ridley e T. Kealey mostram que as maiores inovações dos últimos 150 anos não foram pagas por impostos, mas sim por empresas privadas.
Não são necessárias visíveis inovações para muito contribuir. Economistas como Baumol, Kirzner, Alchian, Coase, Demsetz e Simon explicam que são com milhões de invisíveis e incrementais inovações que milhões de empresários aumentam a eficiência de uma economia e o bem-estar de consumidores.
O Brasil está entre os países mais difíceis do mundo para jovens formados começarem empreendimentos. Um vergonhoso 116º lugar entre 189 países, no relatório Doing Business 2016 do Banco Mundial. E piorando. Nosso ambiente institucional é terrível. Tais jovens precisam de espaço para tentar, errar e tentar de novo. E precisam crescer. Vários países têm programas para melhorar este ambiente. “Uma economia moderna precisa de regulamentos, mas, ao mesmo tempo, eles podem ser paralisantes”, diz o relatório. É o caso do Brasil. Essa melhora é papel da política. O Brasil precisa hoje mais do que nunca abrir janelas para que entre ar fresco na economia. Precisamos de esforço concentrado que desburocratize o empreendedorismo.
Fonte: O Globo, 03/01/2016
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