Os mercados estão em profunda agitação diante de diversas ameaças à economia global. Bolsas caem ao redor do mundo, e os recursos fluem para portos seguros como títulos do Tesouro dos EUA, da Alemanha e do Japão. As turbulências atingem os países de formas diferentes, mas têm em comum o fato de serem originadas nas medidas adotadas para conter a crise de 2008.
Esse processo começou com as quedas bruscas na Bolsa de Xangai, que, como notado aqui, era só a ponta dos verdadeiros problemas da economia chinesa. A China promoveu crescimento exagerado de crédito e investimentos, que geraram endividamento insustentável de províncias e empresas e fragilidade no sistema bancário. A conturbada desvalorização de sua moeda associada à desconfiança em relação ao país gera fuga de capitais de centenas de bilhões de dólares.
Na Europa, alguns bancos exibem fraqueza depois de elevarem muito a concessão de empréstimos financiados por liquidez fornecida pelas autoridades monetárias. Esse problema está sendo magnificado pelos juros hoje negativos, que ameaçam a lucratividade dos bancos.
Nos EUA, o fim do longo programa de estímulo monetário provoca incertezas sobre o valor dos ativos, enquanto o fortalecimento do dólar prejudica as exportações. A violenta queda do preço do petróleo afeta a cadeia de produção de energia, elevando o custo e os riscos de crédito ao setor. Analistas já veem chance de recessão no país. Isso não indica que haverá recessão, mas que os mercados precificam essa possibilidade, com custo aos EUA e à economia mundial.
Já os emergentes são afetados por problemas fiscais depois do aumento de gastos nem sempre eficientes contra a crise e da queda brusca das commodities, principalmente o petróleo.
Estamos, portanto, diante de combinação econômica bastante complexa e de desfecho pouco previsível. Um dos efeitos práticos desse quadro incerto é a redução do fluxo de recursos aos emergentes, principalmente os percebidos como mais frágeis, caso do Brasil. A moeda desses países, inclusive o real, mostra isso.
O Brasil enfrentou a crise de 2008 com a economia crescendo, uma situação fiscal sólida e o emprego e o resultado das empresas em expansão. Hoje o desemprego cresce, o resultado das empresas se deteriora, temos mais recessão à frente e enorme incerteza sobre a capacidade do governo de tomar medidas fiscais que, de fato, restaurem confiança e, a partir daí, investimentos, consumo e crescimento.
A conjuntura global, portanto, deve ser mais uma razão, se necessário fosse, para o Brasil arrumar a casa e realizar reformas que restaurem a competitividade, como a trabalhista, a tributária e a da previdência. Mesmo que elas sejam difíceis e impopulares.
Fonte: Folha de S.Paulo, 14/02/2016.
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