A inflação é um dos problemas mais sérios hoje nas economias desenvolvidas. Não inflação alta, mas excessivamente baixa, inferior à meta dos bancos centrais. Isso apesar do imenso estímulo monetário dos últimos anos e do uso recente de juros negativos. Já aqui, o problema é bem diferente, mas não menos grave.
Há ao menos quatro razões para a queda de inflação pelo mundo. A primeira é o insustentável nível de endividamento de famílias empresas e bancos. Ela gerou a crise de 2008 e um lento processo de desalavancagem que mitigou o efeito dos estímulos monetários.
A segunda é a queda das commodities, sobretudo petróleo, que impacta para baixo os preços dos demais produtos.
A terceira está associada ao conceito de “estagnação secular” proposto por Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA: devido à demografia menos favorável e à queda da produtividade, os juros necessários para equilibrar poupança e investimento tornaram-se negativos. Se os BCs praticarem juros positivos, haverá falta de demanda e deflação.
A quarta razão está ligada à China: o aparecimento de uma imensa massa de trabalhadores com salários baixíssimos numa economia globalizada permitiu a produção de bens a custos bem menores. EUA e outros países desenvolvidos internalizaram essa deflação junto com os produtos importados, e ela se transmitiu aos demais bens e serviços.
O fenômeno da deflação é global e chegou ao Brasil, mas, mesmo assim, vivemos problema oposto. Temos dificuldade de trazer a inflação à meta apesar das elevações dos juros nos últimos anos. Por quê? Avancemos algumas hipóteses:
Primeiro, o papel da confiança e das expectativas. Evidências estatísticas mostram que a manutenção de expectativas de inflação ancoradas na meta é ingrediente central para estabilizar a inflação. Quando a inflação permanece elevada e as expectativas se ajustam para refletir essa elevação, o combate à inflação fica muito mais difícil. Segundo, o papel da inércia inflacionária. Dado o histórico de indexação alta, choques inflacionários demoram a se dissipar. Como a inflação tem se mantido alta, a inércia vem aumentando.
Terceiro, claro, a questão fiscal. Os questionamentos acerca da sustentabilidade da dívida pública impactam o preço de ativos e elevam o risco dos títulos públicos, causando efeitos deletérios adicionais à inflação que terminam reduzindo o poder e a efetividade da política monetária.
Enquanto o perigo de deflação nas economias avançadas pode perdurar, no Brasil o perigo da inflação deve ser atacado com rapidez dado o seu custo e o nosso histórico. A solução do imbróglio fiscal é o primeiro passo para acabarmos com o problema da inflação antes que ela acabe conosco.
Fonte: Folha de S.Paulo, 21/02/2016.
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