Além do empenho com as aulas, provas e o vestibular no fim do ano, estudantes de escolas particulares estão sendo incentivados a desenvolver projetos sociais. Em vez de colocá-los em trabalhos voluntários já desenvolvidos por outras pessoas, os colégios propõem agora que os próprios adolescentes definam quais entidades e como querem ajudar.
No Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, os alunos têm liberdade para criar projetos e divulgá-los entre os colegas. No ano passado, Patrick Sewell, de 19 anos, viajou para a Índia nas férias de julho para fazer trabalho voluntário. Ao voltar para o Brasil, descobriu um orfanato que estava sendo construído, mas não tinha dinheiro para continuar as obras.
“Eu ainda estava muito chocado com tudo o que havia visto e sabia que os alunos do colégio são sempre muito dispostos para essas causas, então montamos um projeto para arrecadar dinheiro”, disse Sewell. Em apenas dois meses, o projeto, nomeado de A Brick for India, arrecadou cerca de R$ 8 mil, o suficiente para que o orfanato terminasse de ser construído.
Com os alunos já organizados e motivados, agora, eles pretendem fazer ações na periferia de São Paulo. “Pequenas ações podem mudar a vida de outras pessoas. Depois que comecei a fazer trabalho voluntário, vi que isso faz parte da minha personalidade, quero ajudar quem precisa”, contou Sewell.
Contra a corrupção
Thomas Giordano, de 17 anos, também aluno do Colégio Bandeirantes, desenvolveu com os colegas o projeto Novo Jeitinho Brasileiro, que tem o objetivo de desconstruir a cultura de pequenas corrupções no dia a dia. “Queremos mostrar as boas e corretas ações que pessoas comuns fazem, mostrar que podemos ser melhores em nossa comunidade.”
Na Escola Villare, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, os alunos do 8.º e do 9.º ano do ensino fundamental e do médio podem fazer um curso optativo de Responsabilidade Social, que tem conteúdo interdisciplinar de Filosofia, Sociologia, História e Geografia.
“Os alunos estudam uma situação do ponto de vista filosófico e sociológico para compreender o problema social e depois desenvolver um plano de ação”, disse Ernani de Paula, coordenador pedagógico. Desde que o projeto começou a ser realizado, já foram feitas ações em asilos, abrigos para crianças e entidades que atendem pessoas com deficiências.
Habilidades
Para Paula, ao compreender uma realidade diferente, os alunos desenvolvem novas habilidades e amadurecem. “Eles ficam mais sensíveis e respeitosos. Além disso, ao verem que podem fazer diferença na vida de outras pessoas, se tornam mais proativos, mais decididos, resilientes”, disse.
Swell e Giordano, que participaram dos projetos voluntários, sabiam desde o início do ensino médio que não queriam cursar faculdade no Brasil. Ambos passaram em universidades americanas, onde o processo de seleção leva em consideração não apenas o desempenho escolar, mas também as atividades extracurriculares dos candidatos.
“Não fiz o trabalho voluntário pensando em entrar na universidade, mas sei que foi importante para a minha aprovação. Foi com esse projeto que ganhei a confiança e a maturidade que um processo de seleção como esse exige”, disse Sewell.
Para Alex Cobo, diretor da Universidade Minerva para a América Latina– instituição com proposta inovadora e mais concorrida que as principais instituições americanas –, os alunos brasileiros têm sido estimulados a fazer atividades extracurriculares importantes, mas ainda não sabem apresentar essas experiências para as seleções em outros países. “O aluno brasileiro tem dificuldade de se vender porque acha que isso é ruim. Mas ele tem de mostrar os projetos que fez e explicitar os ganhos e aprendizados que conquistou com eles.”
Fonte: O Estado de S.Paulo.
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