Era quinta feira, véspera de um feriado. Enquanto o carro percorria a distância que eu precisava, eu puxava conversa com o motorista chamado via Uber. Baiano, morando na cidade desde 2005, me contou que era dono de uma corretora de seguros. Eu perguntei o porquê de ele ter começado adirigir carro por meio do Uber e a resposta foi simples: “Os últimos meses têm sido horríveis. Assim, consigo uma renda extra e não preciso demitir ninguém. O horário é flexível; posso atender os clientes quando tem reunião.” Agradeci, saltei do carro e fui caminhando pensando no empresário como imagem. Lembrei de quantas vezes eu já escutei gente que nunca “colocou a barriga no balcão” falar da ganância dos empresários e da sua falta de humanidade. Enfim, quantas vezes escutei quem empreende ser tratado como abstração.
Naquela manhã estava cristalizada na minha frente a anti-caricatura. O sujeito que se criou numa terra distante, montou seu negócio e foi arrumando as melhores soluções que ele conseguiu para os desafios que a vida trouxe. Empreender era, ali, uma vocação. Não precisava de palco. Não precisava de chancela; Empreendedor era apenas o que aquele homem era.
Nos últimos anos, o empreendedorismo tem ganhado relevância como tema. Mais pessoas desejam abrir seus próprios negócios, ser ‘donas dos próprios narizes’ e, por tabela, correr riscos e colher os lucros desse projeto. Hoje, a grande aspiração dos universitários não é o concurso público. Felizmente, está na moda empreender. Como toda tendência, às vezes, nos distraímos com o que parece ser interessante e não com o que é de fato. Por isso, é importante resgatar o espírito empreendedor na sua essência. E foi exatamente o que o corretor de seguros/motorista me lembrou: mais do que prêmios, perfis impulsionados do facebook, títulos de universidade ou vídeos motivadores, o que une todos os empreendedores é o bom e velho espírito dos mercadores, aqueles que pegam coisas banais e transformam-nas em algo de valor.
Empreender é surpreender, encontrar soluções, encantar e, principalmente, atender uma demanda que, muitas vezes, as pessoas nem sabem que têm. Só é capaz de fazer isso quem entende claramente o seu propósito e se dedica a ele. Só atende as demandas do outro, o empreendedor que não se foca na própria imagem. Para isso, é preciso construir, de dentro para fora, um projeto claro, sem egotrip, e correr riscos. E, olhar para o seu negócio, todo santo dia, e pensar em novas formas de atender melhor os clientes.
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