Enquanto as ideias ficam no campo do discurso ou debate teórico, não há maiores problemas. Tudo muda quando elas são submetidas ao teste da realidade. Em alguns países bem próximos, Brasil, Argentina e Venezuela, bastaram alguns poucos anos de experiência concreta de uma determinada concepção ideológica para que seus resultados aparecessem: caos econômico e político, corrupção, empresas estatais quebradas, falta de confiança, inflação, desemprego em massa.
Nem mesmo a redução dos níveis de pobreza se mostrou sustentável, assistindo-se hoje à ressaca do modelo adotado, com escassez de crédito, liberação dos preços artificialmente congelados, fim de subsídios insustentáveis. Diante de tão evidente e completo fracasso, seria razoável que aqueles que ascenderam ao poder por conta dessas ideias fracassadas ao menos fizessem o mea-culpa.
No entanto, o que se vê é uma postura de quem “cai atirando”: negam a existência dos problemas ou simplesmente os jogam no colo dos outros. Violação aos direitos humanos na Venezuela? Mentira da oposição. Crise na Argentina? O país estava muito bem, os conservadores é que estragaram a marcha das mudanças ao assumirem o poder. Corrupção no Brasil? Invenção da elite que não aceita dividir o avião com os mais pobres. Petrobras quebrada? O mercado é que manipula o preço das ações para sabotar o governo. Para cada problema, há uma saída retórica, carregada de sofismas e acusações.
Descartada a pura má-fé, resta a hipótese de que essas pessoas não se movem pela razão, tampouco estão abertas ao diálogo, porque são movidas por crenças arraigadas, quase beirando ao fervor religioso. Ora, a democracia se funda no pressuposto de que o debate de ideias é capaz de fazer a sociedade avançar. Porém, como acreditar em evolução, se neste debate estamos diante de cegos ideológicos para quem o erro é uma impossibilidade absoluta, incapazes de reconhecer os próprios erros e, portanto, condenados eternamente a repeti-los? Como acreditar em evolução se mesmo as piores experiências não servem para nos levar a qualquer aprendizado?
Fonte: “Zero Hora”, 11 de março de 2016.
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