Durante muitos anos, o Brasil teve um setor de seguros mirrado, com menos de 1% de participação no PIB. Uma das principais razões foi o processo inflacionário que corroeu a capacidade de investimento da nação. Como não poderia deixar de ser, o setor de seguros foi dos mais atingidos e o resultado foi o crescimento pífio até o Plano Real e o crescimento vertiginoso após ele.
Seguro é poupança com finalidade específica. A operação baseia-se na contribuição proporcional ao risco de cada participante para a constituição de um fundo com a finalidade de indenizar as perdas futuras decorrentes dos eventos cobertos. É deste fundo que a seguradora retira os recursos necessários para fazer frente a sinistros, despesas e impostos. Em contrapartida, ela investe esses recursos, conseguindo significativa remuneração, que melhora seus resultados, permitindo cobrar menos pelos seguros comercializados.
Sob essa ótica, a política de juros do governo brasileiro é a melhor amiga das seguradoras. Ao longo de 2015, graças aos altos juros pagos pelos títulos do governo, o setor conseguiu bons resultados nas últimas linhas dos balanços, ainda que a operação de seguro em si tenha apresentado resultados mais apertados. Comparando a atividade seguradora com a caderneta de poupança, na poupança, o agente capta os recursos pagando 106% pelo dinheiro investido, o mesmo patamar médio adotado pelas seguradoras para captar os recursos que vai investir no mercado financeiro. Como dinheiro rendendo 14% ao ano, a margem que fica, tanto para a caderneta de poupança como para a seguradora, é altamente satisfatória, ainda que depois dos impostos ela caia bastante.
A diferença entre as duas é que a poupança, chova ou faça sol, vai ter um teto de remuneração para o investidor de 6% ao ano, o que possibilita à gestora, antecipadamente, conhecer o resultado da operação. No seguro, a conta é menos precisa porque alguns fatores podem apresentar variações maiores para mais ou para menos, comprometendo a resultado.
Se a sinistralidade subir dois pontos, uma conta feita com 106% como parâmetro pode se complicar porque vai para 108%. Se concomitantemente a inflação também sobe, os 14% de rentabilidade do título, em termos reais, diminuem, na medida em que se tem de abater dele a inflação. O resultado é que, num cenário de mais ou menos 8% de inflação ao ano, 14 menos 8, menos 8 já se transformou em menos 2, ou seja, o resultado da captação ficou negativo, gerando prejuízo para a seguradora.
No Brasil de hoje, a futurologia é chute puro. Não há como dizer, diante do cenário político, o que e como vai acontecer na economia. Que, aliás, já vai mal por conta própria. Com a redução do crescimento, com o aumento das fraudes, com o aumento da carga tributária e com a inflação em patamar elevado, algumas companhias de seguros podem se ver em maus lençóis,o que, naturalmente, pode afetar seus segurados, caso a seguradora tenha problemas de fluxo de caixa. Além disso, inflação alta pode comprometer os fundos dos planos de previdência privada aberta, que terão uma redução do ganho real.
Neste cenário, cada passo precisa ser meticulosamente calculado. Não há espaço para experimentações ou amadorismo. É verdade que as companhias com fundos maiores, ou seja, mais recursos, estão menos ameaçadas, porque a massa de dinheiro sob sua administração gera taxas mais altas, incidentes sobre o capital investido.
Mas isso não quer dizer que as seguradoras menores estejam automaticamente com problemas. As seguradoras têm à sua disposição mecanismos eficientes para limitar suas perdas. Com aceitação de riscos competente, contratos de resseguros e investimentos bem planejados, elas podem se valer de diferentes medidas capazes de garantir bons resultados, mesmo em anos ruins.
2016 não será um ano bom e muito menos um ano fácil. Mas será um ano para o reposicionamento futuro. Quem planejar, acreditar em parcerias de longo prazo e não se afobar tem tudo para, no futuro, voltar a crescer em níveis interessantes.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 16 de maio de 2015.
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