A guilhotina midiática opera ao ritmo febril de gravações delatando desesperadas tentativas de criaturas do pântano para interromper as investigações que estão mudando a história política do país. “Recusavam-se a mudar, mantendo em estúpida teimosia o sistema corrupto existente. Não podiam fazer as reformas, porque eram parte da corrupção, com ela cresceram e dela dependiam. Deixaram sem resposta as exigências de reformas. Ignoraram todos os protestos e a revolta crescente. Colocaram seus interesses privados acima do interesse público, convencidos da inviolabilidade de seu poder”, registrava Barbara Tuchman sobre a insensatez dos papas renascentistas.
A falta de estadistas entre nossas lideranças políticas explica por que a sucessão dos eventos continua dirigida pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e pelo novo Judiciário, que se afirma como poder independente. Estadistas no Executivo ou no Congresso já teriam elaborado a reforma política. Afinal, perguntava o ex-presidente FHC, há dois anos: “Por que não assumimos nossa responsabilidade para mudar o sistema e sair do lodaçal que afoga a política? As práticas eleitorais e partidárias do presidencialismo de cooptação estão sob julgamento. O excessivo número de ministérios é a garantia do insucesso administrativo e da conivência com a corrupção”.
Teriam também desconfiado de que há algo de fundamentalmente errado na dimensão fiscal, pois o Brasil exibe o mais longo esforço anti-inflacionário da história universal. A falta de compromisso com o controle dos gastos públicos foi o calcanhar de aquiles de todos os nossos planos de estabilização. Aumentos de impostos, juros astronômicos, inflação persistente e desemprego em massa são consequências dessa explosiva dinâmica dos gastos públicos como percentagem do PIB.
Para interromper essa perversa dinâmica, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou como principal medida limitar o crescimento das despesas federais à inflação do ano anterior. Os desdobramentos dessa proposta devem envolver ajustes no regime previdenciário, como a idade mínima e a revisão dos reajustes de benefícios atualmente indexados ao salário mínimo, bem como a desvinculação de gastos sociais às receitas da União. São os primeiros passos.
Fonte: O Globo, 30/05/2016.
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