por Walter Schalka
O Brasil apresenta sinais claros de esgotamento, e parece óbvio que precisamos fazer algo significativamente diferente para entrar em uma nova era. Viemos de uma cultura patrimonialista em que todos os níveis da sociedade se beneficiaram da ampla oferta de subsídios. Isto levou a uma relação de interdependência e preocupante simbiose entre os poderes público e privado. Não exercemos, na totalidade, uma economia de mercado. E o saldo foi a perda sistemática de eficiência, patrocinada por distorções estruturais e conceituais.
Há uma extensa lista de decisões que comprometem o futuro da competitividade do país: a indexação da economia corrompe o poder de compra de classes mais humildes e aumenta a desigualdade; as aplicações financeiras sem risco, com altas taxas de juros, geram uma riqueza que inibe o capital de risco; a garantia de estabilidade no setor público não estimula a inovação e a meritocracia; o imposto sindical obrigatório converte-se em benefícios a um grupo restrito de líderes. É chave traduzirmos essas e outras inadequações em um megachoque de produtividade, fazendo as reformas que reconhecemos como inadiáveis: tributária, trabalhista, política e previdenciária.
Para tanto, executivos e empresários deveriam atuar para gerar no Brasil um processo de transformação da gestão pública. O Brasil está sem direção. E isto é uma carência histórica. Enquanto os tigres asiáticos fazem sucessivos planos quinquenais, não temos um business plan para o país. O Brasil não sabe o que vai ser quando crescer.
Sempre tivemos dificuldade de definir qual seria de fato a nossa matriz econômica. Em que setores queremos ser competitivos? Viemos, sistematicamente, destruindo a indústria brasileira, e nossa eficiência ficou circunscrita às commodities. Perdemos o bonde da tecnologia da informação. Da biotecnologia. De outras tendências mundiais que irão desembocar em mercados transformadores e bilionários. A incapacidade de acompanhar as inovações expõe outro grave problema: a ausência de planejamento e ações assertivas na educação.
Executivos e empresários têm de lidar com a política nacional e transformar as boas ideias em ações concretas e públicas. Nossa expertise, longe de ser a solução salvadora, pode ser uma importante contribuição para repensarmos o país. É possível unir mentes e esforços a serviço de um programa de médio e longo prazos para o país. Penso na criação de um think tank, com estreita interlocução com o Congresso e o Planalto, que proponha ações específicas e pragmáticas nas áreas a serem estudadas. Pragmáticas porque, para gerar bônus a todas as áreas da sociedade, em médio prazo, todas devem suportar algum ônus no curto prazo. Temos a tendência de defender o status quo. Para mudar, teremos de exigir sacrifícios, como a queda da indexação da inflação nos salários anuais ou uma ampla reforma trabalhista. Do outro lado, talvez, mais impostos dos mais ricos. Se aumentarmos a eficiência e diminuirmos a perda com corrupção, teremos um significativo ganho de produtividade. Se não houver consenso para essa megatransformação, passaremos os próximos anos tapando buraco. É o que eu chamo de operação band-aid.
Temos de acabar com o país do jeitinho, da pequena e da grande corrupção e, finalmente, criar o Brasil que queremos, com união e igualdade de oportunidades, o maior valor de uma sociedade justa.
Fonte: “Época negócios”.
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