Na semana passada, houve a primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central após a troca de guarda na presidência da instituição, de Alexandre Tombini por Ilan Goldfajn.
Depois da reunião, na quarta-feira (20) às 18h, a assessoria de imprensa do BC divulgou o comunicado com a decisão.
O comunicado, bem mais longo do que normalmente, estabeleceu os parâmetros que pautarão a política monetária do BC liderado por Goldfajn.
Reconhece que há sinais de estabilização da atividade com elevado nível de ociosidade e nota a enorme incerteza em relação ao cenário de recuperação da economia internacional.
Em seguida, em dois parágrafos, trata dos elementos-chave para a tomada de decisão de política monetária. Primeiro, lembra que as expectativas inflacionárias dadas pela pesquisa Focus, conduzida pelo BC com agentes do mercado financeiro, indicam que a inflação esperada para 2017 encontra-se acima da meta.
Segundo, que os modelos de inflação, quando rodados no cenário esperado pelo mercado para câmbio e juros, também indicam inflação acima da meta.
O comunicado termina apresentando os fatores que podem pressionar a inflação para mais e para menos nos próximos meses.
Pesando tudo, o Copom decidiu pela manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano.
O tom do comunicado sugere que a formação de expectativas voltou a ter papel central na formulação da política monetária. Parece que uma das precondições para o início de um processo de queda da taxa básica de juros será, como reza o livro-texto de política monetária, que as expectativas de inflação estejam ancoradas na meta.
A ancoragem das expectativas é essencial para que o custo social —na forma de redução da atividade econômica e elevação da taxa de desemprego— do combate à inflação seja baixo.
Quando as expectativas estão ancoradas e a economia sofre um choque de oferta negativo que aumenta a inflação —por exemplo, uma alta na tarifa de energia elétrica em razão de uma seca—, o repasse desse reajuste para os demais preços da economia é menor, pois as pessoas sabem que o BC combaterá esses efeitos secundários do choque de oferta. Isso, por sua vez, torna a tarefa do BC de combater o surto inflacionário bem mais simples.
Nos últimos anos, a importância da ancoragem das expectativas na política monetária foi desconsiderada. Circula uma teoria de que os juros reais são elevados no Brasil em razão de uma conspiração da avenida Faria Lima (sede de muitos bancos) com a diretoria do BC. Essa leitura assevera que o mercado financeiro força as expectativas para cima para fazer com que a Selic, a taxa básica determinada pelo BC, seja maior. Com isso, os bancos engordariam seus lucros.
Evidentemente, essa leitura não encontra nenhum suporte na evidência empírica. As expectativas Focus da inflação um ano à frente têm subestimado fortemente a inflação do ano seguinte. Nos últimos seis anos, a inflação esperada pelo Focus em dezembro foi em média 1,35 ponto percentual menor do que a inflação efetiva no ano seguinte.
No momento, nós sentimos diretamente os custos sociais elevados de as expectativas estarem desancoradas: apesar de a taxa de desemprego ser a maior da história, a inflação tem caído lentamente.
O retorno a uma política monetária “by the book” sinaliza que no futuro próximo esses custos serão menores.
Fonte: Folha de S.Paulo, 24/07/2016.
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