Tenho lido dois clássicos extraordinários, “Édipo Rei” e “Édipo em Colono”, ambos de Sófocles. É o meu único meio de entender as coisas, ler. O primeiro nos apresenta o herói trágico, no auge de sua força física e destemor, rei de Tebas, e por ela, assumindo sua função de homem público, tudo faz para descobrir a origem dos males pelos quais passa a cidade.
Ao final de longa e corajosa investigação, Édipo descobre que é ele o responsável pelo sofrimento de Tebas, pois, sem saber, cumpriu a profecia de que mataria o pai e desposaria a mãe. Édipo se revela e se percebe na ação pelo bem comum e no caso dele isso é da ordem do horror. Tinha o poder, a força e a coragem, mas nada sabia sobre si. Era um jovem.
Em “Édipo em Colono” encontramos o herói velho, cego, pobre, guiado por uma de suas filhas, Antígona, procurando um lugar para aquietar seu corpo maltratado pelo tempo. Aquele que teve o poder sem saber, agora possui o saber sem nenhum poder.
Trágica e bela condição humana, trocar a força dos braços pela capacidade de conhecer. Isso é envelhecer. O que nos ensina a vida do maior herói trágico? Que o poder sem a sabedoria pouco vale, pode ser desastroso, e o caminho para o conhecimento é penoso, sofrido e permanente.
E é preciso coragem e desprendimento para percorrê-lo. Lendo esses textos me remeto a como tratamos nossos velhos, como somos tiranizados pela ideia de juventude, como bajulamos o poder e como ele pode gerar arrogância naqueles que se acreditam ungidos e infalíveis. Esses nada sabem de si, do outro, apenas acreditam em personagens desprovidos de verdade. Tendem a achar que são o início, o meio e o fim.
Édipo, no fim da vida, sentado numa pedra à beira do caminho, profere uma frase extraordinariamente comovente. Ele diz: “Agora, que não sou mais nada, é que sou verdadeiramente um homem.”
(O Dia – 02/05/2010)
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