“Dessa forma, você gera um Executivo que não tem direção, que é impossível de coordenar”, diz. “Não adianta o presidente da República ter um projeto claro, se não consegue governar”.
Por outro lado, a oposição, segundo Nakano, “não percebeu a gravidade da crise”, e busca, nas manifestações de rua, aumentar os gastos do governo. “A liderança política por trás dos protestos defende que é preciso um Estado maior, com mais direitos”. E conclui: “Não enxergo uma liderança emergindo para fazer as reformas”.
O professor começou sua exposição lembrando que até a década de 1980 o país crescia a ritmo acelerado, impulsionado por um modelo de crescimento de substituição de importações. “Mas esse modelo se tornou rígido e não fez as mudanças necessárias, mesmo quando o mundo mudou”, afirma. O resultado foi uma indústria cujo objetivo era ser autossuficiente, fechada ao comércio internacional e que não soube aproveitar a globalização.
Brasil não suporta uma dívida de 60% do PIB
“O fato novo no início da década de 1990 é que começou a se engendrar um novo modelo”, afirma Nakano. Esse modelo, segundo o professor, foi baseado em atrair fluxo de capital do exterior, e nessa lógica era necessário manter as taxas de juro elevadas. “Acreditava-se que, atraindo capital, o mercado, sendo eficiente, alocaria os recursos nos setores mais produtivos”, diz. “Nessa lógica, a política fiscal podia ser sempre expansionista”. O câmbio tendeu à apreciação e o Brasil viu um processo de desindustrialização. “Chegamos ao período mais recente com participação da indústria no valor agregado total de menos de 10% do PIB”.
Contudo, a política fiscal expansionista e a política monetária restritiva resultaram em um “déficit monumental”, afirma Nakano. “O Brasil não suporta uma dívida de 60% do PIB, ainda mais com as taxas de juros que praticamos”, diz o professor. Ele defendeu, então, que é preciso “mudar toda a dinâmica de crescimento do gasto público e fazer uma reforma na dívida”.
Fonte: “Época negócios”, 12/09/2016
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