Após seis anos trabalhando no esquema home-office, Leonardo Lima estranhou o novo local de trabalho. A sala com vidros transparentes e as constantes visitas dos vizinhos gerava um pequeno incômodo para o sócio da empresa de design Rumpus. Mas logo vieram alguns encontros “quebra-gelo”, contatos com outros empreendedores e, consequentemente, acordo e transações fechadas. Há quatro meses no coworking Nex, localizado na Ladeira da Glória, ele já se sente à vontade com a nova casa.
— Inicialmente, foi estranho. Era um pouco fechado, mas você acaba socializando muito, conhecendo outras empresas. Já fiz seis clientes — disse o empreendedor de 27 anos.
Assim como Leonardo, diversos micro, pequenos e médios empresários estão optando por mudar suas sedes para estes espaços compartilhados, atraídos especialmente pelo menor custo de manutenção neste período de crise econômica. A possibilidade de negócios com os parceiros que dividem o ambiente também é algo que estimula, especialmente se o próprio local promove tal integração.
— As vantagens do modelo de coworking são a praticidade de não ter que reformar um imóvel, comprar móveis e gastar tempo com a gestão do espaço físico; a flexibilidade do modelo com contratos mais simples e possibilidades de alteração de acordo com o momento do negócio. Mas o mais importante de todos, é a oportunidade de conexão com as mentes mais incríveis que você pode conhecer. Isso é muito poderoso — considera André Pegore, um dos sócios do Nex, que tem mensalidades a partir de R$ 1.150.
Agenda de eventos
Para ajudar nesta conexão, a empresa tem uma agenda de eventos para que os encontros entre os participantes aconteçam e floresçam: cafés coletivos, happy hour, palestras e workshops.
— Não somos uma aceleradora, mas isso acontece naturalmente. Um bom ambiente de trabalho e os conhecimentos feitos nesse ambiente acabam por proporcionar o crescimento dos negócios. É inevitável — diz Pegore.
Leonardo Lima pretende retornar no início do ano para as sessões de coaching com Leonardo Lanzetta, de 40 anos, outro empreendedor que fixou sua sede no Nex. Os dois se conheceram num destes encontros.
— Quando descobri o espaço, vi que era onde gostaria de trabalhar. Um lugar plural, com cabeças jovens, exemplo prático de economia criativa e colaborativa — revela ele, que atende a mais quatro clientes do espaço.
Inaugurado em março, o Laboratório Criativo (Lab 71) é outro coworking que segue este sentido. A cozinha é ocupada pela empresa de gastronomia Panelada, a garagem por uma hamburgueria. Há ainda uma companhia de branding voltada para músicas, um estúdio de tatuagem, um de produção cultural e diversas estações de trabalho: todos dividem uma casa dos anos 40 em Botafogo.
— Os negócios acontecem naturalmente entre os participantes. Além do espaço físico do Lab, há uma plataforma digital que ajuda nesta comunicação — afirma um dos sócios Luiz Fernando Ferreira, lembrando que o espaço colaborativo abre as portas com intervenções artísticas, workshops de inovação social e negócios criativos etc. A empresa tem seis planos a partir de R$ 50 a diária.
Para a diretora de Talent Development da LHH, Silvana Mello, não é somente a redução de custo que deve ser levada em conta pelo empreendedor na hora de fechar o escritório e passar para um coworking.
— Depende da cultura, da maturidade e do jeito de funcionar da organização. Não adianta usar este espaço e permanecer com o modelo mental hierárquico — diz Silvana.
Na avaliação de Silvana, profissionais que têm características de atuar de forma colaborativa e compartilhada — normalmente ambientes de comunicação, consultoria e tecnologia — aderem muito bem a este ambiente.
— As gerações Y e Z também têm facilidade em se adaptar porque cresceram atuando em formato de rede. Já aqueles que conviveram em ambientes com pouca transparência podem ter dificuldade em se adaptar.
Na opinião do coordenador do curso de Relações Públicas da Facha, Anderson Ortiz, no caso de negócios mais tradicionais, os formatos antigos para escolha da sede ainda valem:
— Quando o sigilo faz parte da função, como um trabalho de contador, por exemplo, como deixar as informações dos clientes em um espaço compartilhado? — questiona.
Outro questionamento do professor é sobre a cultura das empresas em uma comunidade aberta.
— As grandes organizações têm um desenho que vem da direção para os funcionários. E nestas organizações celulares? Como o traço de cultura será captado?
Perto de casa
De acordo com o último Censo Coworking, realizado pela Coworking Brasil e Movebla, até março, eram 378 espaços ativos no Brasil, número 52% maior do que em 2015. No Rio, havia 35, um crescimento de 75%. As principais áreas de atuação dos profissionais que utilizam esse tipo de espaço são consultoria, publicidade, design, marketing e startups.
Editor do Movebla, site especializado em cultura do trabalho móvel, Anderson Costa acredita que este número irá aumentar no próximo levantamento, com a chegada de grandes players no mercado como Google e Itaú. Em contrapartida, acredita que a crise econômica poderá interferir na rotatividade dos espaços.
— Além disso, o crescimento do coworking nos bairros é uma tendência. As pessoas não querem mais gastar duas horas no trânsito para chegar ao trabalho — lembra ele.
Para os próximos anos, Anderson crê no crescimento de espaços mais setorizados e não apenas focados em comunicação e tecnologia, como acontece atualmente.
— Em São Paulo há coworkings especiais em que mães e pais podem levar seus filhos. E estão nascendo iniciativas voltadas exclusivamente para o mercado de moda e gastronomia — diz ele.
A área de saúde divide salas há muito tempo — mas não simultaneamente. No entanto, este setor também está caminhando para o coworking. A diretora do Espaço Médico Ipanema, Thereza Souto Maior, percebeu que um espaço compartilhado é uma excelente opção para o profissional que está iniciando a carreira, pois já encontra o consultório todo montado, com a estrutura completa.
— A primeira vantagem é a economia de tempo: o médico não precisa se preocupar com nada. Tomamos conta de tudo, inclusive da sua agenda e dos seus pacientes, o profissional pode focar e se dedicar somente ao seu trabalho. A economia de custos é outro ponto: os profissionais de saúde não têm despesas com aluguel, condomínio, taxas, impostos, funcionários, limpeza, manutenção, entre outras — explica.
Com a mesma proposta, o Dentalbros ocupa quatro andares de um prédio na Barra reunindo no mesmo local espaços para cirurgiões-dentistas, radiologistas, técnicos em prótese dentária.
— O local é uma boa oportunidade também para networking entre os especialistas na área — acredita Marcelo Rolla, um dos sócios do Dentalbros.
Anderson não vê problema em quem opta por este tipo de negócio, mas lembra que a base do coworking é a troca de informações de diferentes áreas.
— A ideia é se juntar para que os negócios se complementem. Não vejo como médicos ou dentistas se ajudariam neste espaços. Pode sim é criar uma competição entre eles — afirma ele.
Fonte: “O Globo”.
No Comment! Be the first one.