*por Fernanda Moura e Taciana Mello
Nossa primeira semana no Brasil foi a mil e mesmo com o Carnaval chegando, a gente não teve tempo de desacelerar. Nosso próximo destino para entrevistas era Recife, um dos principais polos de empreendedorismo da região. A cidade, reconhecida por oferecer um dos mais famosos carnavais de rua do Brasil, tem se desenvolvido muito nos últimos anos quando o assunto é empreendedorismo. Dois projetos muito importantes têm contribuído: o Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e digitais do Brasil e o Porto Social, um misto de incubadora, aceleradora e co-working focado em projetos e empresas destinados a solucionarem problemas sociais.
Além dessas iniciativas mais estruturadas para o estímulo do empreendedorismo de forma geral, há também mulheres liderando ações voltadas para o desenvolvimento de outras mulheres por meio de redes de apoio com foco em novos negócios. Mesmo com o progresso dos últimos tempos, o empreendedorismo feminino naquela região ainda tem um perfil muito mais de necessidade que oportunidade e há empreendedoras que têm buscado apoiar umas às outras para que haja essa transição. Uma delas é Verônica Ribeiro, fundadora do Comnecta, empresa de consultoria de negócios e formalização de iniciativas de mulheres artesãs e pequenas produtoras para que comecem uma atividade empreendedora mais estruturada. O trabalho dela vai além da consultoria e tem sido fundamental para abrir mercados para os esses produtos, utilizando uma plataforma que serve de vitrine para um público maior. Verônica tem a grande ambição de levar os artigos dessas mulheres para além do interior e agreste pernambucanos e, sim, já se organiza para, em um futuro próximo, se lançar à exportação deles.
A questão do empreendedorismo feminino no interior não é apenas importante para a economia local como um todo, mas também para a autonomia econômica dessas mulheres, que enfrentam uma luta diária contra o machismo e, em muitos casos, a violência doméstica. Segundo Verônica, muitas encaram a resistência dos maridos para participar de iniciativas como a dela e não raro são forçadas a deixar o programa. O desafio dessas mulheres, muitas vezes, não é garantir recursos, mas sim garantir a integridade física.
Uma tendência que a gente tem visto, desde o início de nossas andanças, é o esforço de mulheres em se organizarem e buscarem construir um grupo de estímulo e capacitação no qual podem discutir diversos aspectos de seus negócios, aprender com as experiências e desafios do dia a dia, e fazer networking. Em Recife não foi diferente. Entrevistamos Iris de Cássia, idealizadora da Rede Ela Empreendedora, que tem como foco conectar mulheres e promover negócios liderados por elas na região. Em pouco mais de um ano de atividade, já criou um prêmio para reconhecer mulheres que tem empreendido, além de organizar uma série de eventos para networking e liderança de negócios.
Entrevistar em Recife teve um gostinho especial. Convidadas mais do que especiais nos acompanharam: nossas mães, que puderam vivenciar como o projeto vem se desenvolvendo. Ainda que não tenham ido às entrevistas, acompanharam a correria de como tem sido na “estrada” e que apesar da ideia de glamour de viagem pelo mundo, a realidade é outra, reuniões no carro e em cafés, corre corre para cumprir a agenda de entrevistas, além de toda a logística do projeto e da viagem. E claro, embora já sejam fãs de carteirinha, adoraram estar “on the road” com a gente e dividir nossa empolgação a cada entrevista!
Uma dessas entrevistas contagiantes foi com a Sarah Medeiros, fundadora da Via Linda, que começou sua jornada de empreendedora muito cedo, inspirada pelo pai taxista que, para ajudar na renda familiar, fazia bico de revendedor de calçados. Ela sempre o ajudava vender os produtos pela vizinhança e, ao completar 15 anos, ao invés de fazer festa ou viagem, pediu que o pai lhe comprasse uma loja. Isso mesmo, uma loja. Desejo atendido, Sarah iniciou uma trajetória empreendedora digna de filme. Quebrou 3 vezes, perdeu um negócio todo devido a um incêndio, recriou-se de forma incrível. Hoje, com 37 anos e muito aprendizado com sucessos e fracassos, transformou seu negócio em uma venda direta de calçados nos moldes de itens de beleza. Ela vem treinando, motivando e dando suporte a dezenas de mulheres que revendem seus produtos no estado de Pernambuco. Com uma personalidade contagiante e cheia de energia, já foi logo dividindo sua ambição de expandir seus negócios para ser uma referência no Nordeste em calçados e bolsas femininas.
Como a gente já esperava, a recepção em Recife foi ótima e a hospitalidade do Nordeste faz a gente ficar com vontade de “quero mais”. Mas depois de muito calor e água de coco, ao final de uma semana, chegava a hora de fazer as malas e voltar para São Paulo e começar um novo lote de entrevistas. A passagem por Recife mostrou como tem se desenvolvido, ao longo dos últimos anos, um ecossistema empreendedor de referência. De volta a São Paulo, a gente já tinha uma agenda repleta de entrevistas para conhecer o que as paulistanas têm criado por essas bandas. Semana que vem a gente começa a contar tudinho.
*Fernanda Moura e Taciana Mello são caçadoras de inspiração e idealizadoras do projeto The Girls on the Road
Fonte: “Época negócios”.
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