No dia 17/3/2017, o Brasil e o mundo foram surpreendidos pela divulgação da ”Operação Carne Fraca” da Polícia Federal, destinada a combater a venda ilegal de carnes no país. A operação revelou uma extensa rede de corrupção, criada para garantir a comercialização de carnes adulteradas e com data de validade vencida. A investigação implicou mais de 30 empresas, entre elas duas que figuram entre as maiores exportadoras mundiais de carne, que negam ter cometido essas irregularidades. O caso abala um dos poucos pilares ainda seguros da instável economia brasileira, o agronegócio.
Lições aprendidas para as empresas
Notícias que prejudiquem a imagem podem ocorrer em qualquer empresa. O caso das empresas envolvidas na Lava-Jato, no deslizamento de terra em Mariana e, agora, na operação Carne Fraca, reforça a necessidade de as organizações investirem em: governança corporativa; gestão de riscos corporativos; e gerenciamento de crise.
Governança corporativa é o conjunto de processos e políticas que regulam a maneira como uma empresa é dirigida, administrada ou controlada. A governança se concentra em quem toma as decisões, na forma como as decisões são tomadas, e nos facilitadores de colaboração (confiança, flexibilidade e controles comportamentais), definindo assim o framework de governança no âmbito do qual as decisões são tomadas e os tomadores de decisão são responsabilizados. Princípios de governança organizacionais devem estabelecer, com clareza, os papéis, com foco em ética, responsabilidade, transparência, responsabilidade social, e uma variedade de outros princípios que são únicos para cada organização.
Gestão de riscos corporativos é a identificação, análise, resposta e acompanhamento de eventos incertos que coloquem em risco a organização, em especial a sua imagem, saúde financeira e objetivos estratégicos.
Gestão de crise é o planejamento, execução e monitoramento da forma de se relacionar com públicos de interesse em momentos de crise, sendo necessário o envolvimento e treinamento dos funcionários. A ideia é minimizar, reduzir ou, se possível, eliminar os impactos causados por essas adversidades, para que a empresa tenha o menor prejuízo financeiro e de imagem possível. O gerenciamento de crises serve exatamente para planejar e monitorar o modo como a informação é levada ao público, tanto pela empresa como pela mídia; além de zelar pela imagem interna da organização.
Lições aprendidas para o governo
Por definição, uma “organização” é uma associação de pessoas que combinam esforços individuais e em equipe com a finalidade de realizar propósitos coletivos. Infelizmente temos visto, tanto no setor público como no privado, que os esforços têm focado mais nos objetivos individuais do que nos coletivos. O estabelecimento de metas para os setores, sem associação com as metas corporativas, faz com que cada um foque em seus resultados. É mais ou menos como aquela música da “Dança do Quadrado”, que surgiu na cidade de Porto Seguro na Bahia, que manda cada um cuidar da sua própria vida: “Ado, Ado Ado, cada um no seu quadrado”. Ninguém está interessado no que ocorre no outro setor, pois o importante é cumprir as suas metas. Acaba virando um ambiente de competição e não de colaboração.
Devemos entender o governo federal como uma organização única que, neste momento, está empenhada em tirar o Brasil desta crise política, social, econômica e financeira.
A Polícia Federal tem tido uma atuação brilhante no combate à corrupção, digna de elogios e de orgulho dos brasileiros. Porém, na minha opinião, como parte dessa organização “governo”, ela deveria ter um cuidado especial na divulgação de suas operações, de forma a que limitasse os danos aos verdadeiros culpados. É impensável afirmar que as fraudes divulgadas na “Operação Carne Fraca” sejam uma estratégia corporativa das empresas envolvidas para diminuição de custos. Com certeza elas são fruto da ambição de alguns poucos envolvidos e de um ambiente competitivo voltado para o atingimento de metas.
Desta forma, acredito que o governo precisa fazer um trabalho de endomarketing que enfatize a necessidade de que todos os órgãos, sem deixar de fazer o seu trabalho de forma eficiente e eficaz, contribuam para o objetivo maior do governo, na atual conjuntura, que é tirar o país do buraco que estamos atolados.
E ainda temos a febre amarela. Qual será a próxima praga para o Brasil?
Fonte: LinkedIn – Carlos Magno Xavier, 19 de março de 2017.
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