Num dia comum de aula, Bianca (nome fictício), de 9 anos, estudou um pouco, tomou o leite e comeu a merenda. Depois, ela conta em uma carta escrita a pedido do “Extra”, começaram os tiros. E todo mundo se jogou no chão. Ela lembra que a amiga ficou desesperada, e as duas se arrastaram para o corredor. A aula acabou ali. A história se passou na Escola municipal Joana Angélica, na Vila Kennedy, favela de Bangu que está entre os cinco locais que mais perderam dias de aulas (veja o ranking abaixo). No topo da triste estatística, está Acari — que, em média, perde um dia de aula por semana para a violência.
O “Extra” pediu para que os alunos do colégio nas comunidades de Bangu e de Acari escrevessem o que eles pensavam sobre paz e violência no local onde moram. Com essa proposta, Bianca decidiu desabafar sobre o dia em que ela e a amiga se arrastaram desesperadas.
— Dá para perceber pelos olhinhos deles que os alunos estão ali fragilizados — conta uma educadora da prefeitura que trabalha em área conflagrada da cidade do Rio.
Um ano tem 200 dias letivos — e até o fim da semana passada já haviam se passado 75. Assim, as escolas municipais de Acari, que juntas ficaram sem 19 dias de aulas por causa de tiroteios no entorno, já perderam 20% de um ano. As reposições acontecem ao longo do tempo. No entanto, as perdas, dizem diretores e professores, são inevitáveis.
— As mães se preocupam se os alunos estão faltando muito. Não é bom ter muita falta, mas tem que se sentir segura para levar a criança até a escola — diz uma diretora.
Os períodos mais tensos são nas horas da entrada e da saída. Nesses momentos, os muros da escola, que protegeram Bianca e a amiga, se distanciam. Ontem, foi no fim da aula, na Vila Kennedy, que os tiros começaram. Mães se abrigaram no pátio e esperaram 20 minutos para encarar a violência do mundo lá fora, até a segurança da próxima parede.
2.449 alunos sem aula
Tiroteios em diversos pontos da cidade deixaram 2.449 alunos sem aulas nesta terça-feira. No total, quatro creches, uma escola e cinco Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) não puderam abrir as portas por causa da violência.
Os problemas foram espalhados pela cidade. No Centro, as aulas não ocorreram no Morro da Mineira, no Catumbi, e no Morro de São Carlos, do Estácio; na Zona Norte, as escolas fecharam no Morro do Borel, Tijuca, e no Jacarezinho; na Zona Sul, a comunidade prejudicada foi o Fallet-Fogueteiro, em Santa Teresa; e na Zona Oeste, as crianças da favela do Rola, em Santa Cruz, não conseguiram estudar.
— Minha escola fica entre a UPP e os bandidos. Quando os traficantes atacam os policiais, a gente fica no meio do fogo cruzado. Não tem como ter aula — explica uma professora.
Fonte: “Extra”
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